Misericórdia: A verdadeira face do Amor
Todos nós estamos em uma jornada. Somos peregrinos nesta vida, que é como uma longa viagem, onde percorremos caminhos cheios de altos e baixos.
Vezes há que o caminho é plano e reto. Em outro momento, um buraco no meio do caminho de onde você tem que desviar. Naquele percurso o caminho é inclinado, e você tem a sensação de “despencar” de repente.
Às vezes, ainda, o “pior” acontece: o carro em que estamos dá um defeito e não temos como continuar. Nas situações humanas, o motorista em apuros tentaria consertar o veículo, ou chamar o reboque.
Em último caso pegaria carona com alguém, abandonando momentaneamente o seu transporte.
Mas o que aconteceria se o “carro” enguiçasse em nossa vida espiritual?
Como iríamos adiante? Há situações em que o carro dá problemas, mas ainda podemos continuar a passos lentos. Em outros, o veículo roda uma parte do caminho e pára.
Depois de algum esforço por parte do motorista, volta a funcionar. Entretanto, existe uma situação em que só é possível prosseguir se o veículo for consertado por um mecânico.
Mas não um mecânico qualquer. Foi ele quem projetou as estradas, ele quem as construiu e quem nos deu o mapa de viagem.
E, por imprudência nossa, pegamos um atalho que não deveríamos, por que vimos que muitos motoristas estavam indo por aquele caminho, então, pensamos, deveria dar certo no final.
E nos enganamos… Fomos iludidos pelas falsas placas, e não demos atenção ao nosso plano de viagem. E agora, o que fazer?
É nessa hora que muitas almas se perdem… elas ficam com vergonha de chamar o mecânico, de pedir ajuda, e acabam ficando pelo meio do caminho.
Ficam lá e nunca atingirão o seu objetivo, que é chegar ao céu. Podem até pegar carona com outros motoristas, que logo se oferecem para levá-las, se elas abandonarem o carro lá na estrada.
Pobres almas!
Não sabem que esses motoristas são demônios, que farão de tudo para levá-las a um outro caminho muito distante do Céu: o Inferno.
Meu irmão, se você, em algum momento de sua vida, tiver sensação de que o carro de sua vida espiritual enguiçou e que não dá mais para continuar a caminhada, não se desespere.
Não pegue carona com os demônios, não acredite em seus argumentos de que não adianta tentar consertar o seu carro. E não tenha receio de chamar o mecânico. Ele tudo pode consertar, basta pedir.
Quando erramos, os demônios tentam nos convencer de que já não há mais solução, de que já não somos dignos de continuar a caminhada, de que os nossos erros nunca serão apagados.
A alma neste estado fica tentada a se esconder de Deus ao máximo, fica como que Adão e Eva, com vergonha do Criador.
É certo que nossas faltas, negligências, pecados ou omissões, por mais insignificantes que possam parecer, ofendem gravemente a santidade de Deus e nos afastam de Sua presença.
Mas não podemos, quando neste estado espiritual, nos esconder do Criador, pois à medida que nossa alma se afasta de Deus ela morre…
Devemos, neste momento, enxergar a verdadeira face do Amor de Deus: Sua Misericórdia.
A Misericórdia do Pai revela um amor extraordinário por nós! É um amor sem explicação, sem limites. É um amor que não mereceremos, é puro, sem interesses… É um amor que ama o pecador, mas não o pecado. É como a parábola descrita em Lc 15,11-32:
“Disse também: Um homem tinha dois filhos.
O mais moço disse a seu pai: Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca. O pai então repartiu entre eles os haveres.
Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente.
Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria.
Foi pôr-se ao serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos.
Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Entrou então em si e refletiu: Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão em abundância… e eu, aqui, estou a morrer de fome! Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados. Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. O filho lhe disse, então: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai falou aos servos: Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés. Trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa. Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a festa.”
Nessa parábola o Senhor Jesus nos mostra o quanto o Pai é misericordioso, que está sempre de braços abertos a esperar a volta do filho arrependido.
O pai da parábola agiu com seu filho pródigo tal como Deus age conosco. Portanto, não confiar na Misericórdia de Deus é não acreditar em seu amor por nós.
É negar o Sangue Precioso de Jesus derramado por nós na cruz, para remissão de nossos pecados.
“Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3, 16) e
“Filhinhos meus, isto vos escrevo para que não pequeis. Mas, se alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” (I Jo 2, 1-2)
Deus, por nos amar tanto, enviou Seu Filho, Seu unigênito, para nos redimir dos nossos pecados. Sua Palavra é bem clara quando diz que temos um intercessor junto do Pai: Jesus Cristo.
Por isso, nunca devemos achar que para nós não há mais salvação, que já não temos mais jeito. Não podemos agir como Judas, o Traidor, que, tendo percebido seu erro, não confiou na Misericórdia e acabou se suicidando, com remorso na consciência.
Quando não confiamos na Misericórdia de Deus, acabamos agindo como Judas, nos afastando de Deus, nos suicidando espiritualmente.
Entretanto, é importante lembrar que o perdão de Deus é para os que o procuram com o coração verdadeiramente contrito, para aquele que reconheceu o erro e está arrependido.
Tal foi o que aconteceu com São Pedro, que negou Jesus por três vezes, mas que depois derramou lágrimas de arrependimento:
“Voltando-se o Senhor, olhou para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra do Senhor: Hoje, antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes. Saiu dali e chorou amargamente.” (Lc 22, 61-62)
Porém, precisamos tomar o cuidado de não cometermos pecados deliberadamente, nos aproveitando da Misericórdia Divina, pois Deus é Amor e Misericórdia, mas também é Justiça.
Portanto, aquele que cometer pecados deliberados, que ofender a Deus com consciência, já esperando receber o perdão, prestará contas à Justiça Divina.
A Misericórdia de Deus é uma dádiva para os pecadores arrependidos, para os que amam a Deus e vivem constantemente na arena da santidade, aqueles que travam verdadeiros combates contra si mesmos, contra o mundo e contra os demônios.
Aproximemo-nos, pois, desta misericórdia, a fim de que sejamos restaurados como filhos de Deus e permaneçamos em nossa jornada até chegarmos ao final do caminho: o Céu!
Edilene de Freitas
Prof.Escola de Formação