Celina Borges – Espirito Santo Repousa

março 31, 2010

O RELÓGIO DA PAIXÃO: 12:00 ÀS 13:00 hs. JESUS E DESPOJADO DAS VESTES E CRUCIFICADO.

março 31, 2010

O RELÓGIO DA PAIXÃO
DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

  12:00 ÀS 13:00 hs. JESUS E DESPOJADO DAS VESTES E CRUCIFICADO.

… Vós renegastes o Santo e o Justo… Matastes o Príncipe da vida… (At 3, 14-15)

O GÓLGOTHA

Jesus, querendo purificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora das portas. Saiamos, pois, a ele fora da entrada, levando a sua ignomínia. (Heb 13, 12-13)

Conduziram Jesus ao lugar chamado Gólgota, que quer dizer lugar do crânio. (Mc 15, 22)

DIVIDEM AS SUAS VESTES

… Repartiram as suas vestes, tirando a sorte sobre elas… (Mc 15, 24)

Depois de os soldados crucificarem Jesus, tomaram as suas vestes e fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. A túnica, porém, toda tecida de alto a baixo, não tinha costura. Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas deitemos sorte sobre ela, para ver de quem será. Assim se cumpria a Escritura: Repartiram entre si as minhas vestes e deitaram sorte sobre a minha túnica (Sl 21,19). Isso fizeram os soldados. (Jo 19, 23-24)

O MOTIVO DA CONDENAÇÃO

“Sou EU, quem ME sagrei um REI, em Sião, Minha montanha santa…” (Sal 2, 6)

Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos judeus. (Lc 23, 38)

Pilatos redigiu também uma inscrição e a fixou por cima da cruz. Nela estava escrito: Jesus de Nazaré, rei dos judeus. Muitos dos judeus leram essa inscrição, porque Jesus foi crucificado perto da cidade e a inscrição era redigida em hebraico, em latim e em grego. Os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: Não escrevas: Rei dos judeus, mas sim: Este homem disse ser o rei dos judeus. Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi. (Jo 19, 19-22)

JESUS É PREGADO NA CRUZ E CONTADO ENTRE OS MALFEITORES

“… Traspassaram minhas mãos e meus pés: poderia contar todos os meus ossos….” (Sal 21, 17-18)

“Que ferimentos são esses em tuas mãos? São ferimentos que recebi na casa de meus amigos”… (Zac 13, 6)

“… Gólgotha. Ali o crucificaram…” (Jo 19, 18)

Crucificaram com ele dois bandidos: um à sua direita e outro à esquerda. [Cumpriu-se assim a passagem da Escritura que diz: Ele foi contado entre os malfeitores (Is 53,12).] (Mc 15, 27-28)

JESUS É ULTRAJADO NA CRUZ

Eu, porém, sou um verme, não sou homem, o opróbrio de todos e a abjeção da plebe. Todos os que me vêem zombam de mim; dizem, meneando a cabeça: Esperou no Senhor, pois que ele o livre, que o salve, se o ama. (Sal 21, 7-9)

…Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele! (Mt 27, 42)

Os que iam passando injuriavam-no e abanavam a cabeça, dizendo: Olá! Tu que destróis o templo e o reedificas em três dias, salva-te a ti mesmo! Desce da cruz! Desta maneira, escarneciam dele também os sumos sacerdotes e os escribas, dizendo uns para os outros: Salvou a outros e a si mesmo não pode salvar! Que o Cristo, rei de Israel, desça agora da cruz, para que vejamos e creiamos! Também os que haviam sido crucificados com ele o insultavam. (Mc 15, 29-32)

A PRIMEIRA PALAVRA NA CRUZ

“Foi ELE que intercedeu pelos culpados… (Is 53, 12)

E Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem. (Lc 23, 34)

A SEGUNDA PALAVRA DE JESUS

“O justo, Meu Servo, justificará a muitos…” (Is 53,11)

“Ainda hoje estarás coMigo no Paraíso” (Lc 23, 43)

Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós! Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino! Jesus respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso. (Lc 23,39-43)

VINHO COM MIRRA E FEL

“Puseram fel no Meu alimento… (Sal 68, 22)

Deram-lhe de beber vinho misturado com fel. Ele provou, mas se recusou a beber. (Mt 27, 34)

Pai Nosso…, Ave Maria…, Glória ao Pai…

Pela sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.

Meu Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.

            Segundo as Visões de Anna Catharina Emmerich: 

Os carrascos despem Jesus para a crucificação e oferecem-Lhe vinagre.

            Dirigiram-se então quatro carrascos à masmorra subterrânea, situada a setenta passos ao norte; Jesus rezava todo o tempo a Deus, pedindo força e paciência e oferecendo-se mais uma vez em sacrifício expiatório, pelos pecados dos inimigos. Os carrascos arrancaram-nO para fora e, empurrando, batendo e insultando-O, levaram-nO para o suplício. O povo olhava e insultava; os soldados, frios e altivos, mantinham a ordem, dando-se ares de importância; os carrascos, cheios de raiva sanguinária, arrastaram Jesus brutalmente para o largo do suplício.

Quando as santas mulheres viram Jesus chegar, deram dinheiro a um homem, que o devia levar, junto com vinho aromático, aos carrascos, para que esses o dessem a Jesus a beber. Mas esses criminosos não Lho deram, mas beberam-no depois. Tinham lá dois vasos de cor parda, dos quais um continha vinagre misturado com fel e o outro uma espécie de vinagre, que afirmavam ser vinho, com mirra e absinto; dessa bebida ofereceram um copo pardo, a Jesus, que apenas o provou, tocando-o com os lábios, mas não bebeu.

Estavam no lugar do suplício dezoito carrascos; os seis que O tinham açoitado, quatro que O conduziram, dois que suspenderam a extremidade da cruz pelas cordas e seis que O deviam crucificar. Parte deles estavam ocupados com Jesus, outros com os ladrões, trabalhando e bebendo alternadamente. Eram homens baixos, robustos, sujos e meio nus, de feições estranhas, cabelo eriçado, barba rala: homens abomináveis e bestiais. Serviam a judeus e romanos por dinheiro.

O aspecto de tudo isso era mais terrível ainda, porque eu vi o mal, em figuras visíveis para mim e invisíveis para os outros. Via grandes e hediondas figuras de demônios, agindo entre todos esses homens cruéis; era como se auxiliassem em tudo, aconselhando, passando as ferramentas; havia inúmeras aparições de figuras pequenas e medonhas, de sapos, serpentes e dragões de muitas garras, vi todas as espécies de insetos venenosos voarem em redor e escurecerem o ar.

Entravam na boca e no coração dos assistentes ou pousavam-lhes nos ombros; eram homens cujos corações estavam cheios de pensamentos de ódio e maldade ou que proferiam palavras de maldição e escárnio. Acima do Senhor, porém, vi várias vezes, durante a crucifixão, aparecerem grandes figuras angélicas, que choravam e aparições luminosas, nas quais distingui apenas pequenos rostos. Vi aparecer tais Anjos de compaixão e consolo também sobre a Santíssima Virgem e todos os bons, confortando e animando-os.

Os carrascos tiraram então o manto do Senhor, que lhe tinha antes enrolado em redor do peito; tiraram-Lhe o cinturão, com as cordas e o próprio cinto. Despiram-nO da longa veste de lã branca, passando-a pela cabeça, pois estava aberta no peito, ligada com correias. Depois lhe tiraram a longa faixa estreita, que caia do pescoço sobre os ombros e como não Lhe podiam tirar a túnica sem costuras, por causa da coroa de espinhos, arrancaram-Lhe a coroa da cabeça, reabrindo assim todas as feridas; arregaçando depois a túnica, puxaram-lha, com vis gracejos, pela cabeça ferida e sangrenta.

Lá estava o Filho do Homem, coberto de sangue, de contusões, de feridas fechadas ou outras ainda sangrentas, de pisaduras e manchas escuras. Estava apenas vestido ainda do curto escapulário de lã sobre o peito e costas e da faixa que cingia os rins. O escapulário de lã aderira às feridas secas e estava colado com sangue na nova ferida profunda, que o peso da cruz Lhe fizera no ombro e que Lhe causava um sofrimento indizível.

Os carrascos arrancaram-lhe o escapulário impiedosamente do peito e assim ficou Jesus em sangrenta nudez, horrivelmente dilacerado e inchado, coberto de chagas. No ombro e nas costas se Lhe viam os osso, através das feridas e a lã branca do escapulário ainda estava colada em algumas feridas e no sangue ressecado do peito.

Arrancaram-Lhe então a última faixa de pano da cintura e eis que ficou de todo nu e curvou-se, cheio de confusão e vergonha; e como estava a ponto de cair, sob as mãos dos carrascos, sentaram-nO sobre uma pedra, pondo-Lhe novamente a coroa de espinhos sobre a cabeça e ofereceram-Lhe a beber do outro vaso, que continha vinagre com fel; mas Jesus desviou a cabeça em silêncio.

Quando, porém, os carrascos O pegaram pelos braços, com que cobria a nudez e O levantaram, para estendê-Lo sobre a cruz, ouviram-se gritos de indignação e descontentamento e os lamentos dos amigos por essa vergonha e ignomínia.

A Mãe Santíssima suplicou a Deus com ardor; já estava a ponto de tirar o véu da cabeça e, abrindo caminho por entre os carrascos, oferecê-lo ao Divino Filho. Mas Deus ouvira-lhe a oração; pois nesse momento um homem, vindo da porta e correndo todo o caminho com as vestes arregaçadas, atravessou o povo e precipitou-se ofegante entre os carrascos e entregou um pano a Jesus que, agradecendo-lhe, o aceitou e cobriu a nudez, cingindo-O à moda dos orientais, passando a parte mais comprida por entre as pernas e ligando-a com a outra em redor da cintura.Esse benfeitor do Divino Redentor, enviado para atender à súplica da SS. Virgem, tinha na sua impetuosidade algo de imperioso; ameaçou os carrascos com o punho e disse apenas: “Tomem cuidado de não impedir este homem de cobrir-se”. Não falou com ninguém mais e retirou-se tão rapidamente como tinha vindo.

Era Jonadab, sobrinho de São José, da região de Belém, filho daquele irmão a quem José, depois do nascimento de Jesus, empenhara o jumento. Não era amigo declarado de Jesus; também nesse dia se tinha mantido afastado e limitara-se observar tudo de longe. Já quando ouvira contar que Jesus fora despido na flagelação, ficara muito indignado; depois, quando se aproximou a hora da crucificação, estava no Templo e sentia uma indizível angústia.

Quando a Mãe de Jesus, no Gólgota, dirigiu o grito da alma a Deus, sentiu Jonadab de repente um impulso irresistível de correr do Tempo ao Calvário para cobrir a nudez do Senhor. Sentia na alma uma viva indignação contra o ato ignominioso de Cam, que rira da nudez de Noé, embriagado pelo vinho e sentiu-se impelido a correr, como um novo Sem, para cobrir a nudez do lagareiro. Os crucificadores eram os Camitas e Jesus pisava as uvas no lagar, para o vinho novo, quando Jonadab veio cobri-lo. Essa ação foi mais tarde recompensada, como vi e hei de contar.

Jesus é pregado na cruz.

Jesus, imagem viva da dor, foi estendido pelos carrascos sobre a cruz; Ele próprio se sentou sobre ela e eles brutalmente O deitaram de costas. Colocaram-Lhe a mão direita sobre o orifício do prego, no braço direito da cruz e aí lhe amarraram o braço. Um deles se ajoelhou sobre o santo peito, enquanto outro lhe segurava a mão, que se estava contraindo e um terceiro colocou o cravo grosso e comprido, com a ponta limada, sobre essa mão cheia de bênção e cravou-o nela, com violentas pancadas de um martelo de ferro. Doces, e claros gemidos ouviram-se da boca do Senhor; o sangue sagrado salpicou os braços dos carrascos; rasgaram-Lhe os tendões da mão, os quais foram arrastados, com o prego triangular, para dentro do estreito orifício. Contei as marteladas, mas esqueci, na minha dor, esse número. A Santíssima Virgem gemia baixinho e parecia estar sem sentidos exteriormente; Madalena estava desnorteada.

As verrumas eram grandes peças de ferro, da foram de um T; não havia nela nada de madeira. Também os pesados martelos eram, como os cabos, de ferro e todos de uma peça inteiriça; tinham quase a forma dos martelos de pau que os marceneiros usam entre nós, trabalhando com formão.

Os cravos, cujo aspecto fizera tremer Jesus, eram de tal tamanho que, seguros pelo punho, excediam em baixo e em cima cerca de uma polegada. Tinham cabeça chata, da largura de uma moeda de cobre, com uma elevação cônica no meio. Tinham três gumes; na parte superior tinham a grossura de um polegar e na parte inferior a de um dedo pequeno; a ponta fora aguçada com uma lima; cravados na cruz, vi-lhes a ponta sair um pouco do outro lado dos braços da cruz.

Depois de terem pregado a mão direita de Nosso Senhor, viram os crucificadores que a mão esquerda, que tinham também amarrado ao braço da cruz, não chegava até o orifício do cravo, que tinham perfurado a duas polegadas distante das pontas dos dedos. Por isso ataram uma corda ao braço esquerdo do Salvador e, apoiando os pés sobre a cruz, puxaram a toda força, até que a mão chegou ao orifício do cravo. Jesus dava gemidos tocantes; pois deslocaram-Lhe inteiramente os braços das articulações; os ombros, violentamente distendidos, formavam grandes cavidades axilares, nos cotovelos se viam as junturas dos ossos.

O peito levantou-se-Lhe e as pernas encolheram-se sobre o corpo. Os carrascos ajoelharam-se sobre os braços e o peito, amarram-lhe fortemente os braços e cravaram-Lhe então cruelmente o segundo prego na mão esquerda; jorrou alto o sangue e ouviram-se os agudos gemidos de Jesus, por entre as pancadas do pesado martelo. Os braços do Senhor estavam tão distendidos, que formavam uma linha reta e não cobriam mais os braços da cruz, que subiam em linha obliqua; ficava um espaço livre entre esses e as axilas do Divino Mártir.

A SS. Virgem sentiu todas essas torturas com Jesus; estava de uma palidez cadavérica e fracos gemidos saiam-lhe da boca. Os fariseus dirigiram insultos e zombarias para o lado onde ela estava; por isso os amigos conduziram-na para junto das outras santas mulheres, que estavam um pouco mais afastadas do lugar do suplício. Madalena estava como louca; feria o rosto de modo que tinha as faces e os olhos cheios de sangue.

Havia na cruz, em baixo, talvez a um terço da respectiva altura, uma peça de madeira, fixa por um prego muito grande, destinada a suportar os pés de Jesus, afim de que ficasse mais em pé do que suspenso; de outro modo as mãos teriam sido rasgadas pelo peso do corpo e os pés não poderiam ser pregados sem quebrá-los. Nessa peça de madeira tinham perfurado o orifício para o cravo. Tinham também feito uma cavidade para os calcanhares, como também havia outras, em vários pontos da cruz, para que o Mártir pudesse ficar suspenso mais tempo e o peso do corpo não Lhe rasgasse as mãos, fazendo-O cair.

Todo o corpo de nosso Salvador tinha-se contraído para o alto da cruz, pela violenta extensão dos braços e os joelhos tinham-se-Lhe dobrado. Os carrascos lançaram-se então sobre esses e, por meio de cordas, amarraram-nos ao tronco da cruz; mas pela posição errada dos orifícios dos cravos, os pés ficavam longe da peça de madeira que os devia suportar. Então começaram os carrascos a praguejar e insultar. Alguns julgavam que se deviam furar outros orifícios para os pregos das mãos; pois mudar o suporte dos pés era difícil. Outros fizeram horrível troça de Jesus: “Ele não quer estender-se, disseram, mas nós Lhe ajudaremos”.

Atando cordas à perna direita, puxaram-na com horrível violência, até o pé tocar no suporte e amarraram-na à cruz. Foi uma deslocação tão horrível, que se ouvia estalar o peito de Jesus, que gemia alto: “Ó meu Deus! Meu Deus!” Tinham-Lhe amarrado também o peito e os braços, para os pregos não rasgarem as mãos; o ventre encolheu-se-Lhe inteiramente, as costelas pareciam a ponto de destacar-se do esterno. Foi uma tortura horrorosa.

Amarraram depois o pé esquerdo com a mesma brutal violência, colocando-o sobre o pé direito e como os pés não repousavam com bastante firmeza sobre o suporte, para serem pregados juntos, perfuraram primeiro o peito do pé esquerdo com um prego mais fino e de cabeça mais chata do que os cravos, como se fura a sovela. Feito isso, tomaram o cravo mais comprido que o das mãos, o mais horrível de todos e, passando-o brutalmente pelo furo feito no pé esquerdo, atravessaram-lhe a marteladas o direito, cujos ossos estalavam, até o cravo entrar no orifício do suporte e, através desse, no tronco da cruz. Olhando de lado a cruz, vi como o prego atravessou os dois pés.

Essa tortura era a mais dolorosa de todas, por causa da distensão de todo o corpo. Contei 36 golpes de martelo, no meio dos gemidos claros e penetrantes do pobre Salvador; as vozes em redor, que proferiam insultos e maldições, pareciam-me sombrias e sinistras.

A Santíssima Virgem tinha voltado ao lugar do suplício; a deslocação do corpo do Filho adorado, o som das marteladas e os gemidos de Jesus, causaram-lhe tão veemente dor e compaixão, que caiu novamente nos braços das companheiras, o que provocou um ajuntamento de povo.

Então acorreram alguns fariseus a cavalo, insultando-as e os amigos afastaram-na outra vez a alguma distância. Durante a crucifixão e a elevação da cruz, que se lhe seguiu, se ouviam, especialmente entre as mulheres, gritos de compaixão, como: “Porque a terra não traga esses miseráveis? Porque não cai fogo do céu, para os devorar?”  – A essas manifestações de amor respondiam os carrascos com insultos e escárnio.

Os gemidos que a dor arrancava de Jesus, misturavam-se com contínua oração; recitava trechos dos salmos e dos profetas, cujas predições nessa hora cumpria; em todo o caminho da cruz, até à morte, não cessava de rezar assim e de cumprir as profecias. Ouvi e rezei com Ele todas essas passagens e às vezes me lembro delas, quando rezo os salmos; mas fiquei tão acabrunhada com o martírio de meu Esposo celeste, que não sei mais juntá-las. – Durante esse horrível suplício, vi Anjos a chorar aparecerem acima de Jesus.

O comandante da guarda romana fizera pregar no alto da cruz a tábua, como título que Pilatos escrevera. Os fariseus estavam indignados porque os romanos se riam alto do título “Rei dos judeus”. Por isso voltaram alguns fariseus à cidade, depois de ter tomado medida para uma outra inscrição, para pedir a Pilatos novamente outro título.

Enquanto Jesus era pregado à cruz, estavam ainda alguns homens a trabalhar na escavação em que a cruz devia ser colocada; pois era estreita a cova e a rocha muito dura. Alguns dos carrascos, em vez de dar a Jesus para beber o vinho aromático trazido pelas santas mulheres, beberam-no eles mesmos e ficaram embriagados; queimava-lhe as entranhas e causava-lhes tanta dor nos intestinos, que ficaram desvairados; insultavam a Jesus, chamando-O de feiticeiro e enfureciam-se à vista da paciência do Divino Mestre; desceram várias vezes o Calvário, a correr, para beber leite de jumenta. Havia lá perto algumas mulheres, que pertenciam a um acampamento de peregrinos, vindos para a festa da Páscoa, as quais tinham jumentas, cujo leite vendiam.

Pela posição do sol era cerca de doze horas e um quarto, quando Jesus foi crucificado. No momento em que elevaram a cruz, ouviu-se do Templo o soar de muitas trombetas: Era a hora em que imolavam o cordeiro pascal.

           Elevação da cruz.

            Depois de terem pregado Nosso Senhor à cruz, ataram cordas na parte superior da mesma, por meio de argolas, lançaram as cordas sobre o cavalete antes erigido no lado oposto e puxaram a cruz pelas cordas, de modo que a parte superior se lhe ergueu; alguns dirigiram-se com paus munidos de ganchos, que fincaram no tronco e fizeram o pé da cruz entrar na cova. Quando o madeiro chegou à posição vertical, entrou na escavação com todo o peso e tocou no fundo com um terrível choque. A cruz tremeu do abalo e Jesus soltou um grito de dor; pelo peso vertical desceu-lhe o corpo, as feridas alargaram-se-Lhe, o sangue corria mais abundantemente e os ossos deslocados entrechocaram-se. Os carrascos ainda sacudiram a cruz, para a por mais firme e fincaram cinco cunhas na nova, em redor da cruz: uma na frente, uma do lado direito, outra do lado esquerdo e duas atrás, onde o madeiro estava um pouco arredondado.

Foi uma impressão terrível e ao mesmo tempo comovedora, quando, sob os gritos insultuosos dos carrascos e dos fariseus, como também de muitos homens do povo, mais afastados, a cruz se elevou, balançando e entrou estremecendo na escavação; ouviram-se também vozes piedosas de compaixão, as vozes mais santas da terra: a da Mãe Santíssima, de João, das amigas e de todos que tinham um coração puro, saudaram com expressão dolorosa o Verbo eterno, feito carne e elevado sobre a cruz. Estenderam as mãos ansiosamente como para o segurar, quando o Santo dos santos, o Esposo de todas as Almas, pregado vivo na cruz, foi elevado pelas mãos dos pecadores enfurecidos.

Quando, porém, o madeiro erguido com estrondo, entrou na respectiva cova, houve um momento de silêncio solene; todo o mundo parecia experimentar uma sensação nova, nunca até então sentida. O próprio inferno sentiu assustado o choque do lenho sobre a rocha e levantou-se contra ele, redobrando nos seus instrumentos humanos o seu furor e os insultos. Nas almas do purgatório e do limbo, porém, causou alegria e esperança: soava-lhes como o bater do triunfador às portas da Redenção. A santa Cruz estava pela primeira vez plantada no meio da terra, como aquela árvore da vida no Paraíso e das chagas dilatadas do Cristo corriam quatro rios santos sobre a terra, para expiar a maldição, que pesava sobre ela e para fertilizar e a tornar um paraíso do novo Adão.

Quando o nosso Salvador foi elevado na cruz e os gritos de insulto foram interrompidos por alguns minutos de silencioso espanto, ouvia-se do Templo o som de muitas trombetas, que anunciavam o começo da imolação do cordeiro pascal, do símbolo, interrompendo de um modo solene e significativo os gritos de furor e de dor, em redor do verdadeiro Cordeiro de Deus, imolado na cruz. Muitos corações endurecidos foram abalados e pensaram nas palavras do precursor, João Batista: “Eis aí o Cordeiro de Deus, que tomou sobre si os pecados do mundo”.

O lugar onde fora plantada a cruz, estava elevado cerca de dois pés acima do terreno em redor. Quando a cruz ainda se achava fora da cova, estavam os pés de Jesus à altura de um homem, mas depois de introduzida na respectiva escavação, podiam os amigos chegar aos pés do Mestre, para os abraçar e beijar. Havia um caminho para essa elevação. O rosto de Jesus estava virado para nordeste.

           A crucificação dos ladrões.

            Durante a crucifixão do Senhor jaziam os ladrões, de costas, com as mãos ainda amarradas aos madeiros transversais das cruzes, que tinham sobre a nuca, ao lado do caminho, na encosta oriental do Calvário; estava com eles na guarda. Suspeitos de terem assassinado uma mulher judaica, com os filhos, no caminho de Jerusalém a Jope, foram presos num castelo daquela região, onde morava às vezes Pilatos, por ocasião das manobras do exército e onde se apresentaram como ricos negociantes. Tinham estado muito tempo no cárcere, antes do julgamento e da condenação. Esqueci os pormenores. O ladrão do lado esquerdo era o mais velho e grande criminoso, o sedutor e mestre do outro. Geralmente são chamados Dimas e Gesmas; esqueci-lhes os nomes verdadeiros; vou chamar, por isso, ao bom Dimas e ao mau Gesmas.

Ambos pertenciam à quadrilha de salteadores que, nas fronteiras do Egito, tinham dado agasalho à Sagrada Família, com o menino Jesus, na fuga para o Egito. Dimas fora o menino morfético que, a conselho de Maria, fora lavado pela mãe na água em que o menino Jesus se tinha banhado e que ficara curado no mesmo instante. A caridade e a proteção que a mãe proporcionara à Sagrada Família, fora recompensada naquela ocasião pela cura simbólica, que se realizou na cruz, quando foi limpo pelo sangue de Jesus. Dimas caíra em muitos crimes, mas não era perverso; não conhecia Jesus, a paciência do Senhor comoveu-o.

Enquanto jaziam por terra, falava sem cessar de Jesus com o companheiro: “Maltratam horrivelmente este Galileu, dizia, o que Ele fez, pregando a nova doutrina, deve se pior do que os nossos crimes; mas Ele tem grande paciência e poder sobre todos os homens”. – Gesmas respondeu: “Que poder tem? Se fosse tão poderoso, como dizem, podia salvar-nos todos”. Desse modo continuavam a falar e quando a cruz do Senhor foi elevada, vieram carrascos dizer-lhes: “Agora é a vossa vez” e arrastaram-nos para o lugar do suplício. Desamarraram-nos dos madeiros transversais a toda a pressa, pois o sol já se escurecia e havia um movimento na natureza: como se uma tempestade se aproximasse.

Os carrascos encostaram escadas às árvores das cruzes e ajustaram os lenhos transversais em cima, com cavilhas. No entanto deram a beber aos ladrões vinagre misturado com mirra e vestiram-lhe o gibão já roto, ataram-lhes cordas nos braços e lançando-as sobre os braços da cruz, puxaram-nos para cima, obrigando-os, a pancadas e pauladas, a subir pelos paus que estavam fincados no tronco das cruzes. Nos madeiros transversais e nos troncos já estavam amarradas as cordas, que pareciam ser feitas de cortiça torcida.

Os braços dos condenados foram amarrados aos madeiros transversais; ataram-lhes os pulsos e cotovelos, como também os joelhos e os pés à cruz e apertaram-nos com tanta violência, torcendo as cordas por meio de paus, que os ossos estalavam e o sangue lhes esguichou dos músculos. Os infelizes soltaram gritos horríveis e Deimas, o bom ladrão, disse: “Se nos tivésseis tratado como a este Galileu, não teríeis mais o trabalho de puxar-nos aqui para cima”.

           Os carrascos tiram à sorte as vestes de Jesus.

             Os carrascos juntaram as vestes de Jesus no lugar onde tinham jazido os ladrões e fizeram delas vários lotes, para tirar à sorte. O manto era mais largo em baixo do quem em cima e tinha várias pregas; sobre o peito estava dobrado e formava assim bolsos. Rasgaram-no em várias tiras, como também a longa veste branca, aberta no peito, onde havia correias para atá-la e distribuíram-nas pelos lotes; assim fizeram também várias partes da faixa de pano que vestia em volta do pescoço, do cinto, do escapulário e do pano com que cobria o corpo; todas estas vestes estavam ensopadas do sangue do Nosso Senhor.

Como, porém, não chegaram a um acordo a respeito da túnica sem costuras, que, rasgada em partes, não serviria mais para nada, tomaram uma tabuleta com algarismos e dados em forma de favas, com marcas, que trouxeram consigo e jogando esses dados, tiraram à sorte a túnica. Viu-lhes, porém, um mensageiro de Nicodemos e José de Arimatéia, dizendo-lhe que ao pé do Calvário havia quem quisesse comprar as vestes de Jesus; juntaram então depressa todas as vestes e, correndo para baixo, venderam-nas; assim ficaram essas relíquias com os cristãos.

Jesus crucificado e os ladrões.

          Depois do violento choque da cruz, a cabeça de Jesus, coroada de espinhos, foi fortemente abalada e derramou grande abundância de sangue; também das chagas das mãos e dos pés correu o sangue em torrentes. Os carrascos subiram então pelas escadas e desataram as cordas com que tinham amarrado o santo corpo, para que o abalo não o fizesse cair. O sangue, cuja circulação fora quase impedida pela forte pressão das cordas e pela posição horizontal, afluiu-Lhe então de novo por todo o corpo e as chagas, renovando todas as dores e causando-Lhe um forte atordoamento. Jesus deixou cair a cabeça sobre o peito e ficou suspenso como morto, cerca de sete minutos.

Houve um momento de calma. Os carrascos estavam ocupados em repartir as vestes de Jesus; o som das trombetas perdia-se no ar, todos os assistentes estavam exaustos de raiva ou de dor. Olhei, cheia de susto e compaixão, para meu Jesus, meu Salvador, a Salvação do mundo; vi-O imóvel, desfalecido de dor, como morto e eu também estava à morte; pensava antes morrer do que viver.

Minha alma estava cheia de amargura, de amor e dor; minha cabeça, que eu sentia cercada de uma rede de espinhos, fazia-me quase endoidecer de dor; minhas mãos e meus pés eram como fornalhas ardentes; dores indizíveis passavam-me, como milhares de raios, pelas veias e nervos, encontrando-se e lutando em todos os membros interiores e exteriores de meu corpo, tornando-se uma nova fonte de sofrimentos. E todos esses terríveis tormentos não eram senão amor e todo esse fogo penetrante de dores era contudo uma noite, em que não vi senão meu Esposo, o Esposo de todas as almas, pregado à cruz e contemplava-O com muita tristeza e muita consolação.

A cabeça de Jesus, com a horrível coroa, com o sangue que Lhe enchia os olhos, os cabelos, a barba e a boca ardente, meio entreaberta, tinha caído sobre o peito e também mais tarde só podia levantar-se com indizível tortura, por causa da larga coroa de espinhos. O peito do Divino Mártir estava violentamente dilatado e alçado; os ombros, os cotovelos e os pulsos distendidos até saírem fora das articulações; o sangue corria-Lhe das largas feridas das mãos sobre os braços; o peito levantado deixava em baixo uma cavidade profunda; o ventre estava encolhido e diminuído; como os braços, estavam também as coxas e pernas horrivelmente deslocadas.

Os membros estavam tão horrivelmente distendidos e os músculos e a pele a tal ponto esticados, que se podiam contar os ossos. O sangue escorria-Lhe em redor do enorme prego que Lhe traspassava os pés sagrados, regando a árvore da cruz. o santo corpo estava todo coberto de chagas, pisaduras vermelhas, manchas amarelas, pardas e roxas, inchaços e lugares escoriados. As feridas reabriram-se, pela violenta distensão dos músculos e sangravam em vários lugares; o sangue que corria, era a princípio ainda vermelho, mas pouco a pouco se tornou pálido e aquoso e o santo corpo cada vez mais branco; por fim, tomou a cor da carne em sangue.

            Mas, apesar de toda essa cruel desfiguração, o corpo de Nosso Senhor na cruz tinha um aspecto extremamente nobre e comovedor; na verdade, o Filho de Deus, o Amor Eterno, que se sacrificou no tempo, permaneceu belo, puro e santo nesse corpo do Cordeiro pascal moribundo, esmagado pelo peso dos pecados de toda a humanidade.

A pele da Santíssima Virgem, como a de N. Senhor, tinha por natureza, uma bela cor ligeiramente amarelada, mesclada de um vermelho transparente. As fadigas e as viagens do Mestre nos anos anteriores, lhe tinham tornado as faces, sob os olhos e a cana do nariz um pouco tostadas pelo sol. Jesus tinha um peito largo e forte, branco e sem pêlo, enquanto o de João Batista estava todo coberto de pelo ruivo. Tinha ombros largos e os músculos dos braços bem desenvolvidos; as coxas eram nervosas e musculosas, os joelhos fortes e robustos, como os de um homem que tem andado muito e rezado muito de joelhos.

Tinha as pernas compridas e a barriga das pernas fortes, de muito viajar em terras montanhosas. Os pés eram belos e bem desenvolvidos, a planta dos pés tinha-se tornado calosa, porque geralmente andava descalço por caminhos rudes. As mãos eram de bela forma, com os dedos longos e delgados, não delicados demais, mas também não como as de um homem que as emprega em trabalhos pesados. Não tinha o pescoço curto, mas forte e musculoso. A cabeça tinha boas proporções, não grande demais; a testa era alta e larga e todo o rosto de um belo e puro oval. O cabelo, de um castanho avermelhado, não muito grosso, singelamente repartido no alto da cabeça, caia-Lhe sobre os ombros; a barba não era comprida, mas aparada em ponta e repartida sob o queixo.

Agora, porém, o cabelo fora arrancado em grande parte, o resto colado com sangue; o corpo era uma só chaga, o peito estava como que despedaçado, o ventre escavado e encolhido; em vários lugares se viam as costelas, através da pele lacerada; todo o corpo estava de tal modo distendido e alongado, que não cobria mais inteiramente o tronco da cruz.

O madeiro era um pouco arredondado do lado posterior, na frente liso, com várias escavações; a largura igualava-lhe mais ou menos a grossura. As diversas partes da cruz eram de madeira de diferentes cores, umas pardas, outras amarelas; o tronco era mais escuro, como madeira que tem estado muito tempo na água.

As cruzes dos ladrões, trabalhadas mais grosseiramente, foram instaladas ao lado direito e esquerdo do cume, a tal distância da cruz de Jesus, que um homem podia passar a cavalo entre elas; estavam um pouco mais baixo e colocadas de modo que olhavam um para o outro. Um dos ladrões rezava, o outro insultava Jesus que, olhando para baixo, disse uma coisa a Dinas.

O aspecto dos ladrões na cruz era horrendo, especialmente o do que ficava à esquerda, criminoso enraivecido, embriagado, de cuja boca só saiam insultos e maldições. Os corpos, pendentes da cruz, estavam horrivelmente deslocados, inchados e cruelmente amarrados. Os rostos tornaram-se-lhes roxos e pardos, os lábios escuros, tanto da bebida, como da pressão do sangue; os olhos inchados e vermelhos, quase a sair das órbitas. Soltavam gritos e uivos de dor, que lhes causavam as cordas; Gesmas praguejava e blasfemava.

Os pregos com que os madeiros transversais foram ajustados ao tronco, forçavam-nos a curvar a cabeça, moviam-se e torciam-se convulsivamente na tortura e apesar das pernas estarem fortemente amarradas, um deles conseguiu puxar um pé para cima, de modo que o joelho dobrado se lhe ergueu um pouco.

Primeira palavra de Jesus na cruz.

Depois de crucificar os ladrões e de repartir as vestes do Senhor, juntaram os carrascos todos os instrumentos e ferramentas e, insultado e escarnecendo mais uma vez a Jesus, foram-se embora. Também os fariseus, que ainda estavam, montaram nos cavalos e passando diante de Jesus, dirigiram-lhe muitas palavras insultuosas e seguiram para a cidade. Os cem soldados romanos, com os respectivos comandantes, puseram-se também em mancha, pois veio outro destacamento de cinqüenta soldados romanos, ocupar-lhes o lugar.

Esse destacamento era comandado por Abenadar, árabe de nascimento, que mais tarde, no batismo, recebeu o nome de Ctesifon. O oficial subalterno que estava com essa tropa, chamava-se Cassius; era também muitas vezes encarregado por Pilatos de levar mensagens; recebeu depois o nome de Longinus.

Vieram também a cavalo doze escribas e alguns anciãos do povo, entre os quais os que foram pedir mais uma vez outra inscrição para o título da cruz; Pilatos nem os tinha deixado entrar. Cheios de raiva, andaram a cavalo em redor do lugar do suplício e expulsaram dali a Santíssima Virgem, chamando-a de mulher perdida. João levou-a para junto das outras mulheres, que estavam mais afastadas; Madalena e Marta ampararam-na nos braços.

Quando, fazendo a volta da cruz, chegaram diante de Jesus, balançaram a cabeça, dizendo: “Arre! Impostor! Como é que destróis o Templo e o reedificas em três dias? Queria sempre socorrer os outros e agora não se pode salvar a si mesmo. – Se és o Filho de Deus, desce da cruz. Se é o rei de Israel, então desça da cruz e creremos nEle. Sempre confiava em Deus, que Ele venha salvá-Lo agora”. Os soldados também zombavam, dizendo: “Se és o rei dos judeus, salva-te agora”.

Quando Jesus ainda pendia desmaiado, disse Gesmas, o ladrão à esquerda: “O demônio abandonou-O”. Um soldado fincou então uma esponja embebida em vinagre sobre a ponta de uma vara e chegou-a aos lábios de Jesus, que pareceu chupar um pouco. As zombarias continuavam. O soldado disse: “Se és o rei dos judeus, salva-te.” Tudo isso se deu enquanto o destacamento anterior era substituído pelo de Abenadar.

Jesus levantou um pouco a cabeça e disse: “Meu Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”; depois continuou a rezar em silêncio. Então gritou Gesmas: “Se és o Cristo, salva-te a ti e a nós”. Escarneciam-nO sem cessar; mas Dimas, o ladrão da direita, ficou muito comovido, ouvindo Jesus rezar pelos inimigos. Quando Maria ouviu a voz de seu Filho, ninguém mais pôde retê-la: penetrou no círculo do suplício: João, Salomé e Maria, filha de Cléofas, seguiram-na. O centurião não as expulsou.

Dimas, o bom ladrão, obteve pela oração de Jesus uma iluminação Interior, no momento em que a Santíssima Virgem se aproximou. Reconheceu em Jesus e em Maria as pessoas que o tinham curado, quando era criança e exclamou em voz forte e distinta: “O que? É possível que insulteis Àquele que reza por vós? Ele se cala, sofre com paciência, reza por vós e vós o cobris de escárnio? Ele é um profeta, é nosso rei, é o Filho de Deus”. A essa inesperada repreensão da boca de um miserável assassino, suspenso na cruz, deu-se um tumulto entre os escarnecedores; apanhando pedras, quiseram apedrejá-lo ali mesmo. Mas o centurião Abenadar não o permitiu; mandou dispersa-los e restabeleceu a ordem.

Durante esse tempo a Santíssima Virgem se sentia confortada pela oração de Jesus. Dimas, porém, disse a Gesmas, que gritara a Jesus: “Se és o Cristo, salva-te a ti e a nós” – “Também tu não temes de Deus, apesar de sofreres o mesmo suplício que Ele? Quanto a nós, é muito justo, pois recebemos o castigo de nossos crimes; este, porém, não fez mal algum. Pensa nisto, nesta última hora e converte-te de coração”. Essas palavras e outras mais disse a Gesmas, pois estava todo comovido e iluminado pela graça; confessou suas faltas a Jesus e disse: “Senhor, se me condenardes, será muito justo; mas tende misericórdia de mim”. Respondeu Jesus: “Experimentáras a Minha misericórdia”. Dimas recebeu, por um quarto da hora, a graça de um profundo arrependimento.

Tudo que acabo de contar agora, se deu pela maior parte ao mesmo tempo ou sucessivamente, entre as doze horas e doze e meia, pelo sol, alguns minutos depois da exaltação da cruz. Mas dai a pouco mudaram rapidamente os sentimentos nos corações da maior parte do assistentes; pois enquanto o bom ladrão ainda estava falando, eis que se deu na natureza um fenômeno extraordinário, que encheu de pavor todos os corações.

Fonte: http://www.derradeirasgracas.com/3.%20Vários%20Assuntos/O%20relógio%20da%20Paixão/JESUS%20E%20DESPOJADO%20DAS%20VESTES%20E%20CRUCIFICADO.%2012%2000.htm


AS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA DE LOURDES: 18ª E ÚLTIMA APARIÇÃO.

março 30, 2010

18ª E ÚLTIMA APARIÇÃO.

A última aparição aconteceu com um intervalo de algumas semanas em relação à anterior.

O chamado de Nossa Senhora surpreendeu Bernadette ao anoitecer, quando ela se encontrava em oração na igreja paroquial.

A Gruta tinha sido fechada com uma cerca de madeira, por ordem das autoridades hostis à aparição.

Bernadette passou então com sua tia Lucile e algumas amigas para o outro lado do rio Gave, diante da Gruta. Todas se ajoelharam e rezaram.

Após alguns instantes, as mãos de Bernadette afastaram-se em sinal de maravilhada surpresa, como por ocasião da quinzena de aparições.

Terminado o êxtase, e voltando à casa, ela confidenciou:
― “Eu não via a cerca nem o Gave. Parecia-me estar na gruta, na mesma distância das outras vezes. Eu via somente a Virgem”.

Esta última aparição ocorreu na festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo.

Sintomaticamente, em 13 de outubro de 1917, depois do milagre do sol em Fátima, Nossa Senhora se mostrou revestida do hábito da Ordem do Carmo.


Foi a última despedida na Gruta. Santa Bernadette Soubirous somente voltaria a ver Nossa Senhora 21 anos depois, em Nevers, no dia 16 de abril de 1879, quando deixou esta terra de exílio para contemplá-la eternamente no Céu!

Fonte: http://lourdes-150-aparicoes.blogspot.com/2009/03/18-e-ultima-aparicao-quinta-feira-16-de.html


Clipe da Crucificação de Jesus – A Coroa

março 30, 2010

O RELÓGIO DA PAIXÃO: 11:00 ÀS 12:00 hs. JESUS RECEBE A CRUZ E A ABRAÇA POR NÓS.

março 30, 2010

O RELÓGIO DA PAIXÃO
DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

  11:00 ÀS 12:00 hs. JESUS RECEBE A CRUZ E A ABRAÇA POR NÓS.

… o castigo que nos salva pesou sobre ele… (Is 53, 5)

A VIA SACRA

Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro… (1 Ped 2, 24)

“Em seguida levaram-nO para crucificar” (Mt 27, 31)

Levaram então consigo Jesus. Ele próprio carregava a sua cruz para fora da cidade, em direção ao lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota. (Jo 19, 17)

SIMÃO DE CIRENE AJUDA JESUS CARREGANDO A CRUZ

Esperei no Senhor com toda a confiança. Ele se inclinou para mim, ouviu meus brados. Tirou-me de uma fossa mortal, de um charco de lodo… (Sal 39, 2-3)

“… Acharam um homem chamado Simão… “

Enquanto o conduziam, detiveram um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para que a carregasse atrás de Jesus. (Lc 23, 26)

AS MULHERES DE JERUSALÉM

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os enviados de Deus, quantas vezes quis ajuntar os teus filhos, como a galinha abriga a sua ninhada debaixo das asas, mas não o quiseste! Eis que vos ficará deserta a vossa casa… (Lc 13, 34-35)

“… filhas de Jerusalém chorai sobre vós mesmas…”

Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres, que batiam no peito e o lamentavam. Voltando-se para elas, Jesus disse: Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos. Porque virão dias em que se dirá: Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram! Então dirão aos montes: Caí sobre nós! E aos outeiros: Cobri-nos! Porque, se eles fazem isto ao lenho verde, que acontecerá ao seco? (Lc 23, 27-31)

Pai Nosso…, Ave Maria…, Glória ao Pai…

Pela sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.

Meu Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.

            Segundo as Visões de Anna Catharina Emmerich: 

Jesus toma a cruz aos ombros

Quando Pilatos desceu do tribunal do Gábata, seguiram-no uma parte dos soldados e foram diante do palácio, para acompanhar o séqüito. Um pequeno destacamento ficou com os condenados. Vinte e oito fariseus armados, entre os quais os seis inimigos furiosos de Jesus que estavam presentes quando foi preso no horto das Oliveiras, vieram a cavalo ao fórum, para acompanhar o séqüito.

Os carrascos conduziram Jesus ao meio do fórum; alguns escravos entraram pela porta ocidental, trazendo o patíbulo da cruz e jogaram-no ruidosamente aos pés do Salvador. Os dois braços da cruz, mais finos, estavam amarrados com cordas ao tronco largo e pesado; as cunhas, o cepo para sustentar os pés e a peça ajustada ao tronco para a inscrição, junto com outras ferramentas eram carregados por alguns meninos a serviço dos carrascos.

Quando jogaram a cruz no chão, aos pés de Jesus, Ele se ajoelhou junto à mesma, e abraçando-a, beijou-a três vezes, dirigindo ao Pai celestial, em voz baixa, uma oração comovente de ação de graças pela redenção do gênero humano, a qual ia realizar. Como os sacerdotes, entre os pagãos, abraçam um altar novo, assim abraçou Jesus a cruz, o eterno altar do sacrifício cruento de expiação. Os carrascos, porém, com um arranco nas cordas, fizeram Jesus ficar ereto, de joelhos, obrigando-o a carregar penosamente o pesado madeiro ao ombro direito e com o braço direito segurá-lo, com pouco e cruel auxílio dos carrascos. Vi anjos ajudando-o invisivelmente, pois sozinho não teria conseguido suspendê-lo; ajoelhava-se, curvado sob o pesado fardo.

Enquanto Jesus estava rezando, outros carrascos puseram sobre os pescoços dos ladrões os madeiros transversais das respectivas cruzes, amarrando-lhes os braços erguidos de ambos os lados. Essas travessas não eram inteiramente retas, mas um pouco curvas e na hora da crucifixão eram ajustadas na extremidade superior dos troncos, que eram transportados atrás deles por escravos, junto com outros utensílios.

Ressoou um toque de trombeta da cavalaria de Pilatos e um dos fariseus a cavalo aproximou-se de Jesus, que estava de joelhos, sob o fardo e disse-lhe: “Acabou agora o tempo dos belos discursos”; e aos carrascos: “Apressai-vos, para que fiquemos livres dele. Vamos avante! Fizeram-no levantar-se então aos arrancos e caiu-lhe assim sobre o ombro todo o peso da cruz, que nós devemos também carregar para segui-lo, segundo as suas santas palavras, que são a verdade eterna. Então começou a marcha triunfal do Rei dos reis, tão ignominiosa na terra, tão gloriosa no Céu.

Tinham atado duas cordas à extremidade posterior da cruz e dois carrascos levantaram-na por meio delas, de modo que ficava suspensa e não se arrastava pelo chão. Um pouco afastados de Jesus seguiam quatro carrascos, segurando as quatro cordas que saiam do cinturão novo, com que o tinham cingido. O manto, arregaçado, fora-lhe atado em redor do peito. Jesus carregando ao ombro os madeiros da cruz, ligados num feixe, lembrava-me vivamente Isaac, levando a lenha para a sua própria imolação ao monte Mória.

O trombeteiro de Pilatos deu então o sinal de partir, porque Pilatos também queria sair com um destacamento de soldados, para impedir qualquer movimento revoltoso na cidade. Estava a cavalo, vestido da armadura e rodeado de oficiais e de um destacamento de cavalaria; seguia depois um batalhão de infantaria, de cerca de 300 soldados, todos oriundos da fronteira da Itália e Suíça.

Em frente do cortejo em que ia Jesus, seguia um corneteiro, que tocava nas esquinas das ruas, proclamando a sentença e a execução. Alguns passos atrás marchava um grupo de meninos e homens das camadas mais baixas do povo, transportando bebidas, cordas, pregos, cunhas e cestos, com diversas ferramentas, escravos mais robustos carregavam as estacas, escadas e os troncos das cruzes dos ladrões. As escadas constavam apenas de um pau comprido, com buracos, nos quais fincavam cavilhas. Seguiam-se depois alguns fariseus a cavalo e atrás deles um rapazinho, segurando sobre os ombros, suspensa numa vara, a coroa de espinhos, que não puseram na cabeça de Jesus, porque parecia impedi-lo de carregar a cruz. Esse rapazinho não era muito ruim.

Seguia então Nosso Senhor e Salvador, curvado sob o pesado fardo da cruz, cambaleando sobre os pés descalços e feridos, dilacerado e contundido pela flagelação e as outras brutalidades, exausto de forças, por estar sem comer, sem beber, nem dormir desde a Ceia, na véspera, enfraquecido pela perda de sangue, pela febre e sede, atormentado por indizíveis angústias e sofrimentos da alma.

Com a mão segurava o pesado lenho sobre o ombro direito; a esquerda procurava penosamente levantar a larga e longa veste, para desembaraçar os passos, já pouco seguros. Tinha as mãos inchadas e feridas pelas cordas, com que haviam estados antes fortemente amarradas. O rosto estava coberto de pisaduras e sangue; cabelo e barba em desalinho e colados pelo sangue; o pesado fardo e o cinturão apertavam-lhe a roupa pesada de lã de encontro ao corpo ferido e a lã pegava-se-lhe às feridas reabertas. Em redor só havia ódio e insultos.

Mas também nessa imensa miséria e em todos esses martírios se manifestava o amor do Divino Mártir: a boca movia-se-lhe em oração e o olhar suplicante e humilde prometia perdão. Os dois carrascos que suspendiam a cruz, pelas cordas fixadas na extremidade posterior, aumentavam ainda o martírio de Jesus, deslocando o pesado farto, que alternadamente levantavam e deixavam cair.

Em ambos os lados do cortejo marchavam vários soldados, armados de lanças. Depois de Jesus, vinham os dois ladrões, cada um conduzido por dois carrascos, que lhes seguravam as cordas, presas ao cinturão; transportavam sobre a nuca os madeiros transversais das respectivas cruzes, separados do tronco; tinham os braços amarrados as extremidades dos madeiros. Andavam meio embriagados por uma bebida que lhes tinham dado. Contudo o bom ladrão estava muito calmo; o mau, porém, impertinente, praguejava furioso.

Os carrascos eram homens baixos, mas robustos, de pele morena, cabelo preto, crespo e eriçado; tinham a barba rala, aqui e acolá uns tufinhos de pelos. Não tinham fisionomia judaica; pertenciam a uma tribo de escravos do Egito, que trabalhavam na construção de canais; vestiam somente a tanga e um escapulário de couro, sem mangas. Eram verdadeiros brutos. Atrás dos ladrões vinham a metade dos fariseus, fechando o cortejo. Esses cavaleiros cavalgavam durante todo o caminho, separados, ao longo do séqüito, apressando a marcha ou conservando a ordem. Entre a gentalha que ia na frente do cortejo, transportando as ferramentas e outros objetos, achavam-se também alguns meninos perversos, filhos de judeus, que se lhe tinham juntado voluntariamente.

Depois de um considerável espaço seguia o séqüito de Pilatos; na frente um trombeteiro a cavalo, atrás dele cavalgava Pilatos, vestido da armadura de guerra, entre os oficiais e cercado de um grupo de cavaleiros; em seguida marchavam os trezentos soldados de infantaria. O séqüito atravessou o fórum, mas entrou depois numa rua larga.

O cortejo que conduzia Jesus, passou por uma rua muito estreita, pelos fundos da casa, para deixar livre o caminho para o povo, que se dirigia ao Templo, como também para não por obstáculos ao séqüito de Pilatos.

A maior parte da multidão já se pusera a caminho, logo depois de pronunciada a sentença; os demais judeus dirigiram-se as respectivas casas ou ao Templo; pois haviam perdido muito tempo durante a manhã e apressavam-se em continuar os preparativos para a imolação do cordeiro pascal. Contudo era ainda muito numerosa a multidão, composta de gente de todas as classes: forasteiros, escravos, operários, meninos, mulheres e a ralé da cidade; corriam pelas ruas laterais e por atalhos para frente, para ver mais uma ou outra vez o triste séqüito. O destacamento de soldados romanos que seguia, impedia o povo de juntar-se atrás do séqüito, assim era preciso correr sempre à frente, pelas ruas laterais. A maior parte da multidão dirigiu-se diretamente ao Gólgota.

A rua estreita pela qual Jesus foi conduzido primeiro, tinha apenas a largura de alguns passos, e passava pelos fundos das casas, onde havia muita imundície. Jesus teve que sofrer muito ali; os carrascos andavam mais perto dele; das janelas e dos buracos dos muros o vaiava a gentalha; escravos que lá trabalhavam, atiravam-lhe lama e restos imundos da cozinha; patifes perversos derramavam-lhe em cima água suja e fétida dos esgotos; até crianças, instigadas pelos velhos, juntavam pedras nas roupinhas e saindo das casas e atravessando o séqüito a correr, jogavam-nas no caminho, aos pés de Jesus. Assim foi Jesus tratado pelas crianças, que tanto amava, abençoava e chamava de bem-aventuradas.

A primeira queda de Jesus sob a cruz

A rua estreita dirige-se no fim para a esquerda, torna-se mais larga e começa a subir. Passa ali um aqueduto subterrâneo, que vem do Monte Sião; creio que passa ao longo do fórum, onde há também, sob a terra, canais abobadados e desemboca na piscina das ovelhas, perto da porta das ovelhas. Eu ouvia o murmúrio e o correr das águas nos canos. Naquele ponto, antes de subir a rua, há um lugar mais fundo, onde, por ocasião das chuvas, se junta água e lama e há lá uma pedra saliente, que facilita a passagem, como em muitas outras ruas de Jerusalém, as quais, em grande parte, são bastante toscas.

Quando Jesus, carregado do pesado fardo, chegou a esse lugar, não tinha mais força para ir adiante; os carrascos arrastavam e empurravam-no sem piedade; então Jesus, nosso Deus, tropeçando sobre a pedra, caiu por terra e a cruz tombou-lhe ao lado. Os carrascos praguejaram, puxaram-no pelas cordas, deram-lhe pontapés; o séqüito parou, formou-se um grupo tumultuoso em redor do Divino Mestre.

Debalde estendia a mão, para que alguém o ajudasse a levantar-se. “Ai!” exclamou, “dentro em pouco estará tudo acabado”, e os lábios moviam-se-lhe em oração. Os fariseus gritaram: “Vamos! Fazei-o levantar-se, senão nos morre nas mãos!” Aqui e acolá, dos lados da rua, se viam mulheres a chorar, com crianças, que também choramingavam assustadas.

Com auxílio sobrenatural, conseguiu Jesus afinal levantar a cabeça e esses homens abomináveis e diabólicos, em vez de o ajudarem e aliviarem, ainda lhe impuseram novamente a coroa de espinhos. Levantaram-no depois brutalmente e puseram-lhe a cruz de novo no ombro. Com isso era obrigado a pender para o outro lado a cabeça, torturada pelos espinhos, para assim poder carregar o pesado patíbulo. Com novo e maior martírio subiu então pela rua, que dali em diante se tornava mais larga.

O encontro de Jesus com a Santíssima Mãe. Segunda queda de Jesus debaixo da cruz.

A Mãe de Jesus, transpassada de dor, tinha se retirado do fórum, com João e algumas mulheres, depois de ouvir a sentença que lhe condenara injustamente o Filho. Tinham visitado muitos dos lugares sagrados pela Paixão de Jesus, mas quando o correr do povo e o toque dos clarins e o séqüito de Pilatos, com os soldados, anunciaram a partida para o Calvário, Maria não pode conter-se mais: o amor impelia-a a ver o divino Filho, no seu sofrimento e pediu a João que a conduzisse a um lugar onde Jesus tivesse de passar.

Eles tinham vindo dos lados de Sião; passaram ao lado do tribunal donde Jesus, havia pouco, fora levado por portas e alamedas que noutros tempo estavam fechadas, mas nessa ocasião abertas, para dar passagem à multidão. Passaram depois pela parte ocidental de um palácio, que do outro lado dá, por um portão, para a rua larga, na qual o séqüito entrou depois da primeira queda de Jesus. Não sei mais com certeza se esse palácio era uma ala da casa de Pilatos, com a qual parece estar ligada por pátios e alamedas ou se é, com me lembro agora, a própria habitação do Sumo Sacerdote Caifás; pois a casa em Sião era apenas o tribunal.

– João conseguiu de um criado ou porteiro compassivo a licença de passar, com Maria e as companheiras, para o outro lado e o mesmo empregado abriu-lhes o portão para a rua larga. – Estava com eles um sobrinho do José de Arimatéia; Suzana, Joana Chusa e Salomé de Jerusalém seguira a Santíssima Virgem.

Quando vi a dolorosa Mãe de Deus, pálida, olhos vermelhos de chorar, tremendo e gemendo, envolta da cabeça aos pés num manto azul cinzento, passando com as companheiras por aquela casa, senti-me presa de dor e susto. Já se ouviam por sobre as casas o tumulto e os gritos do séqüito, que se aproximava, o toque da trombeta e a voz do arauto, anunciando nas esquinas das ruas a execução de um condenado a cruz.

O criado abriu o portão; o ruído tornou-se mais distinto e assustador. Maria rezava e disse a João: “Que devo fazer, ficar para vê-lo ou fugir? Como poderei suportar vê-lo neste estado?” João disse: “Se não ficardes, arrepender-vos-eis amargamente toda a vida”. Então saíram da casa, ficando a espera, sob a arcada do portão; olhavam para a direita, rua abaixo, que até lá subia, mas continuava plana, do lugar onde estava Maria.

Ai! Como o som da trombeta lhe penetrou no coração! O séqüito aproximava-se, ainda estaria distante uns 80 passos, quando saíram do portão. Ali o povo não andava na frente, mas aos lados e atrás havia alguns grupos: grande parte da gentalha, que saíra por último do tribunal, corria por atalhos para a frente, para ocupar outros lugares, donde pudesse ver passar o séqüito.

Quando os servos dos carrascos, que transportavam os instrumentos do suplício, se aproximaram, impertinentes e triunfantes, começou a Mãe de Jesus a tremer e chorar e torcer as mãos de aflição. Um dos miseráveis perguntou aos que iam ao lado: “Quem é essa mulher, que está ali lamentando?” Um deles respondeu: “É a mãe do Galileu.” Ouvindo isso os perversos insultaram-na com palavras de zombaria, apontaram-na com os dedos e um desses homens perversos tomou os cravos, com os quais Jesus devia ser pregado na cruz e mostrou-o a Santíssima Virgem, com ar de escárnio. Ela, porém, torcendo as mãos, olhava na direção de seu Filho e esmagada pela dor, encostou-se ao pilar do portão. Tinha a palidez de um cadáver e os lábios roxos.

Passaram os fariseus a cavalo; depois veio o menino, com o título da cruz e, ai! Alguns passos atrás, Jesus, o Filho de Deus, seu próprio Filho querido, o Santo, o Redentor: lá ia cambaleando e curvado, afastando penosamente a cabeça, com a coroa de espinhos, do pesado fardo da cruz. Os carrascos arrastavam-no pelas cordas para a frente; tinha o rosto pálido, coberto de sangue e pisaduras, a barba toda junta e colada sob o queixo pelo sangue.

Os olhos encovados e sangrentos do Salvador, sob o horrível enredo da coroa de espinhos, lançaram um olhar grave e cheio de piedade a Mãe dolorosa e depois, tropeçando, ele caiu pela segunda vez, sob o peso da cruz, sobre os joelhos e as mãos. A mãe, na veemência da dor, não via mais nem os soldados nem os carrascos, via só o Filho querido em estado tão lastimoso e tão maltratado. Estendendo os braços, correu os poucos passos do portão até Jesus, através dos carrascos e abraçando-o, caiu-lhe ao lado de joelhos. Ouvi as palavras: “Meu Filho!” – “Minha Mãe!” – não sei se foram pronunciadas pelos lábios ou só no coração.

Houve um tumulto: João e as mulheres tentavam afastar Maria, os carrascos praguejavam e insultavam-na; um deles gritou: “Mulher, que queres aqui? Se o tivesse educado melhor, não estaria agora em nossas mãos.” Vi que alguns dos soldados estavam comovidos; eles afastaram a Santíssima Virgem, nenhum, porém, a tocou. João e as mulheres levaram-na e ela caiu de joelhos, como morta de dor, sobre a pedra angular do portão, a qual suportava o muro; estavam de costas viradas para o séqüito, apoiando-se com as mãos na parte superior da pedra inclinada, sobre a qual caíra. Era uma pedra com veias verdes; onde os joelhos de Nossa Senhora tocaram, ficaram cavidades e onde as mãos se lhe apoiaram, deixaram marcas menos profundas. Eram impressões chatas, com contornos pouco claros, semelhantes a impressões causadas por uma pancada sobre massa de farinha. Era uma pedra muito dura. Vi que no tempo do bispo Tiago o Menor essa pedra foi colocada na primeira Igreja Católica, que foi construída ao lado da piscina de Betesda.

Já o tenho dito várias vezes e digo-o mais uma vez, que vi em diversas ocasiões tais impressões causadas pelo contado de pessoas santas em acontecimentos de grande importância. Isso é tão certo, que há até a expressão: “Uma pedra sentir-se-ia comovida”, ou a outra: “Isso faz impresso”. A eterna Sabedoria não tinha precisão da arte da imprensa, para transmitir a posteridade testemunhos dos santos.

Como os soldados, armados de lanças, que marchavam aos lados do séqüito, impeliam o povo para diante, os dois discípulos que estavam com a Mãe de Jesus, reconduziram-na pelo portão, que foi fechado atrás deles.

Os carrascos tinha, no entanto, levantado Jesus aos arrancos e puseram-lhe a cruz de novo ao ombro, mas de outra maneira. Os braços da cruz, amarrados ao tronco haviam ficado um pouco soltos e um deles descera um pouco ao lado do tronco; foi esse que Jesus abraçou então, de modo que o tronco da cruz pendia atrás, mais no chão.

Terceira queda de Jesus sob a cruz. Simão de Cirene

O séqüito continuou nessa rua larga, até chegar a porta de um antigo muro da cidade interior. Diante dessa porta há uma praça, em que desembocam três ruas. Ali Jesus tinha de passar sobre outra pedra grande, mas tropeçou e caiu. A cruz tombou para o lado e Jesus, apoiando-se sobre a pedra, caiu por terra e tão enfraquecido estava, que não pode levantar-se mais. Passaram grupos de gente bem vestida, que iam ao Templo e vendo-o, exclamaram: “Coitado, o pobre homem morre!” Deu–se um tumulto; não conseguiram mais levantar Jesus e os fariseus que conduziam o cortejo, disseram aos soldados: “Não chegamos lá com ele vivo; deveis procurar um homem que lhe ajude a levar a cruz.”

Vinha justamente descendo pela rua do meio Simão de Cirene, um pagão, acompanhado pelos três filhinhos; transportava um feixe de ramos secos debaixo do braço. Era jardineiro e vinha dos jardins situados perto do muro oriental da cidade, onde trabalhava. Todos os anos vinha, com mulher e filhos, para a festa em Jerusalém, como muitos outros da mesma profissão, para podar as sebes. Não pode sair do caminho, porque a multidão se apinhava na rua. Os soldados, que pela roupa viam que era pagão e pobre jardineiro, apoderaram-se dele e, levando-o para onde estava Jesus, mandaram-lhe que ajudasse o Galileu a transportar a cruz.

Simão resistiu e mostrou muita repugnância, mas obrigaram-no a força. Os filhinhos choravam alto e algumas mulheres que conheciam o homem, levaram-nos consigo. Simão sentiu muito nojo e repugnância, vendo Jesus tão miserável e desfigurado e com a roupa tão suja e cheia de imundície. Mas Jesus, com os olhos cheios de lágrimas, olhou para Simão com olhar tão desamparado, que causava dó. Simão foi obrigado a ajudá-lo a levantar-se; os carrascos amarraram o braço da cruz mais para trás e penduraram-no, com uma volta da corda, sobre o ombro de Simão, que andava muito perto, atrás de Jesus, que deste modo não tinha mais que carregar tanto peso. Finalmente o lúgubre séqüito se pôs em movimento.

Simão era homem robusto, de 40 anos. Andava com a cabeça descoberta; vestia uma túnica curta, apertada e na cintura uma faixa de pano roto; as sandálias, atadas aos pés e pernas com correias, terminavam na frente em bico agudo. Os filhos vestiam túnicas listadas de várias cores; dois já eram quase moços, chamavam-se Rufo e Alexandre e juntaram-se mais tarde aos discípulos. O terceiro era ainda pequeno; vi-o ainda menino, em companhia de Santo Estevão. Simão ainda não tinha seguido muito tempo Jesus, carregando o patíbulo e já se sentia profundamente comovido.

Verônica e o Sudário.

A rua em que se movia nessa hora o séqüito, era longa, com uma leve curva para a esquerda e nela desembocavam várias ruas laterais. De todos os lados vinha gente bem vestida, que se dirigia ao Templo; ao ver os séqüito, uns se afastavam, com o receio farisaico de se contaminarem, outros manifestavam certa compaixão. Havia cerca de duzentos passos que Simão ajudava Jesus a carregar a cruz, quando uma mulher de figura lata e imponente, segurando uma menina pela mão, saiu de uma casa bonita, ao lado esquerdo da rua e que tinha um átrio cercado de muros e de um belo gradil brilhante, onde se penetrava por um terraço, com escadaria. Ela correu com a menina, ao encontro do cortejo.

Era Seráfia, mulher de Sirac, membro do Conselho do Templo, a qual, pela boa ação praticada nesse dia, recebeu o nome de Verônica (de vera icon: verdadeira imagem).

Seráfia tinha preparado em casa um delicioso vinho aromático, com o piedoso desejo de oferecê-lo como refresco a Jesus, no caminho doloroso para o suplício. Já tinha ido uma vez ao encontro do séqüito, em expectativa dolorosa; vi-a velada, segurando pela mão uma mocinha que adotara, passar ao lado do séqüito, quando Jesus se encontrou com a Santíssima Virgem. Mas, com o tumulto, não achou ocasião de aproximar-se e voltou as pressas para casa, para lá esperar o Senhor.

Saiu, pois, velada de casa para a rua; um pano pendia-lhe do ombro; a menina, que podia ter nove anos, estava-lhe ao lado, ocultando sob o manto o cântaro com o vinho, quando o séqüito se aproximou. Os que o precediam, tentaram em vão retê-la; ela esta fora de si de amor e compaixão. Com a menina, que se lhe segurava, pegando-lhe o vestido, atravessou a gentalha, que ia dos lados e por entre os soldados e carrascos, avançou para a frente de Jesus e, caindo de joelhos, levantou para Ele o pano, estendido de um lado, suplicando: “Permiti-me enxugar o rosto de meu Senhor.”

Jesus tomou o pano com a mão esquerda e apertou-o, com a palma da mão de encontro ao rosto ensangüentado; movendo depois a mão esquerda, com o pano, para junto da mão direita, que segurava a cruz, apertou-o entre as duas mãos e restituiu-lho, agradecendo; ela o beijou, escondendo-o sobre o coração, debaixo do manto e levantou-se.

Então a menina ofereceu timidamente o cântaro com o vinho; mas os soldados e carrascos, praguejando, impediram-na de confortar Jesus. A audácia e rapidez dessa ação provocou um ajuntamento curioso do povo e causou assim uma pausa de dois minutos apenas na marcha, o que permitiu a Seráfia oferecer o sudário a Jesus. Os fariseus a cavalo e os carrascos irritaram-se com essa demora e mais ainda com a veneração pública manifestada ao Senhor e começaram a maltratá-lo e empurrá-lo. Verônica, porém, fugiu com a menina para dentro de casa.

Apenas entrara no aposento, estendeu o sudário sobre a mesa e caiu por terra desmaiada; a menina, com o cântaro de vinho, ajoelhou-se-lhe ao lado, chorando. Assim as encontrou um amigo da casa, que entrara para visitar e a viu como morta, sem sentidos, ao lado do sudário estendido, no qual o rosto ensangüentado do Senhor estava impresso de um modo maravilhosamente distinto, mas também horrível. Muito assustado, fe-la voltar a si e mostrou-lhe o rosto do Senhor. Cheia de dor, mas também de consolação, Seráfia ajoelhou-se diante do sudário, exclamando: “Agora vou abandonar tudo, o Senhor deu-me uma lembrança”.

Esse sudário era de lã fina, cerca de três vezes mais longo do que largo. Costumava-se usar em volta do pescoço; as vezes usavam ainda outro em torno dos ombros. Era uso ir ao encontro de pessoas aflitas, cansadas, tristes ou doentes e enxugar-lhes o rosto; era sinal de luto e compaixão; nas regiões quentes também usavam dá-lo de presente. Verônica guardava esse sudário sempre a cabeceira da cama. Depois de sua morte veio ter, por intermédio das santas mulheres, as mãos da Santíssima Mãe de Deus e dos Apóstolos e depois a Igreja.

A quarta e quinta queda de Jesus sob a cruz. As compassivas filhas de Jerusalém.

O séqüito estava ainda a boa distância da porta; a rua descia um pouco até lá. A porta era uma construção extensa e fortificada; passava-se primeiro por uma arcada abobadada, depois sobre uma ponte e finalmente por outra arcada. A porta ficava em direção sudoeste; ao sair dela, se via o muro da cidade estender-se para o sul, a uma distância como, por exemplo, de minha casa até a Matriz, (cerca de dois minutos de caminho); depois virava, a uma boa distância, para oeste e voltava novamente a direção do sul, fazendo a volta do Monte Sião. A direita se estendia o muro para o norte, até a porta do ângulo, dirigindo-se depois ao longo da parte setentrional de Jerusalém, para leste.

Quando o séqüito se aproximou da porta, impeliam-no os carrascos com mais violência. Justamente diante da porta, havia no caminho desigual e arruinado uma grande poça: os carrascos arrastavam Jesus para frente, apertavam-se uns aos outros; Simão Cireneu procurou passar ao lado da poça, pelo caminho mais cômodo; com isso deslocou-se a cruz e Jesus caiu pela quarta vez sob a cruz e tão duramente, no meio do lodaçal, que Simão quase não pode segurar a cruz, Jesus exclamou em voz fina, fraca e contudo alto: “Ai de ti! Ai de ti! Jerusalém” Quando te tenho amado! Como uma galinha, que esconde os pintinhos sob as asas, assim queria reunir os teus filhos e tu me arrastas tão cruelmente para fora de tuas portas.”

– O Senhor disse essas palavras com profunda tristeza, mas os fariseus, virando-se para ele, insultaram-no, dizendo: “Este perturbador do sossego público ainda não acabou; ainda tem a língua solta?” e outras zombarias semelhantes. Espancaram e empurraram Jesus, arrastando-o para fora do lodaçal, para o levantar. Simão Cireneu ficou tão indignado com as crueldades dos carrascos, que gritou: “Se não acabardes com esta infâmia, jogarei a cruz no chão e não a carregarei mais, mesmo que me mateis também.”

Logo depois de passar a porta, separa-se da estrada, do lado direito, um caminho estreito e áspero que, dirigindo-se para o norte, conduz em poucos minutos ao monte Calvário. A estrada grande ramifica-se, a pouca distância dali, em três direções: a esquerda, para sudoeste, pelo vale Gihon, em direção a Belém; para oeste, em direção a Emaús e Jope e para noroeste, rodeando  o monte Calvário, em direção a porta Angular, que conduz a Betur.

Olhando da porta pela qual Jesus saiu, a esquerda, para sudoeste, pode-se ver a porta de Belém. Essas duas portas são, entre as porta de Jerusalém, as menos distantes. No meio da estrada, fora da porta, donde parte o caminho para o monte Calvário, havia uma estaca, com uma tabuleta pregada, na qual estavam escritas as sentenças de morte proferidas contra Jesus e os ladrões, escritas em letras brancas salientes, que pareciam coladas sobre a tabuleta.

Não longe daí, na esquina do caminho de Gólgota, estava um numeroso grupo de mulheres, a chorar e lamentar. Em parte eram moças e mulheres pobres, com crianças, vindas de Jerusalém, que se tinham adiantado ao séqüito; em parte mulheres vindas de Belém, Hebron e outros lugares circunvizinhos, que tinham chegado para a festa e se juntaram aquelas mulheres.

Jesus não caiu ali inteiramente por terra; ia caindo como quem desmaia, de modo que Simão por a extremidade da cruz no chão e, aproximando-se de Jesus, segurou-o. O Senhor encostou-se em Simão. Essa foi a quinta queda do Salvador sob a cruz. As mulheres e moças, ao verem Jesus tão desfigurado e ensangüentado, começaram a chorar e lamentar alto, oferecendo-lhe os sudários, segundo o costume entre os judeus, para que enxugasse o rosto. Jesus virou-se-lhes e disse: “Filhas de Jerusalém, (isso significa também: filhas de Jerusalém e cidades vizinhas), não choreis por mim, mas chorai por vós e vossos filhos; porque sabei que virá tempo e quem se dirá: “Ditosas as que são estéreis e ditosos os ventres que não geraram e ditosos os peitos que não deram de mamar”.

– Então começarão os homens a dizer aos montes: “Caí sobre nós!” e aos outeiros: “Cobri-nos”. Porque, se isto se faz no lenho verde, que se fará no seco?” ainda lhes disse outras belas palavras, as quais, porém, esqueci; entre outras disse que aquelas lágrimas lhes seriam recompensadas, que doravante deviam seguir outros caminhos, etc.

Houve ali uma pausa, pois o séqüito parou por algum tempo. Aqueles que levavam os instrumentos do suplício, continuaram o caminho para o Calvário; seguiam-se depois cem soldados do destacamento de Pilatos, o qual tinha acompanhado o cortejo até ali, mas chegado a porta da cidade, voltara para o palácio.

Jesus no Monte Gólgota. Sexta e sétima queda de Jesus e seu encarceramento

O séqüito pôs-se novamente em caminho. Jesus, curvado sob a cruz, impelido a empurrões e golpes, arrastado pelas cordas, subiu penosamente o áspero caminho que segue para o norte, entre o monte Calvário e os muros da cidade; depois, no alto, se volta o caminho tortuoso outra vez para o sul. Lá caiu Jesus, tão enfraquecido, pela sexta vez, foi uma queda dura e a cruz, ao cair, ainda mais o feriu. Os carrascos, porém, espancaram e impeliram-no com mais brutalidade do que antes, até que Jesus chegou ao cume, no penedo do Gólgota e ali caiu novamente com a cruz por terra, pela sétima vez.

Simão Cirineu, também maltratado e cansado, estava cheio de indignação e compaixão; quis ajudar Jesus a levantar-se, mas os carrascos, aos empurrões e insultos, fizeram-no voltar pelo caminho, morro abaixo; pouco depois se associou aos discípulos do Mestre Divino. Também os outros que trouxeram os instrumentos ou seguiram o cortejo e de que os carrascos não precisavam mais, foram enxotados do cume. Os fariseus a cavalo subiram o monte Calvário por outros caminhos, mais cômodos, do lado oeste. Do cume se avistam justamente os muros da cidade.

A face superior, o lugar do suplício, tem a forma circular e caberia bem no largo diante da nossa Matriz; é do tamanho de um bom picadeiro e cercado de um aterro baixo, cortado por cinco caminhos. Essa disposição de cinco caminhos encontra-se em quase todos os lugares do país, em lugares de banhos públicos ou de batismo, como na piscina Betesda; muitas cidades também têm cinco portas. Essa disposição acha-se em todas as construções dos tempos antigos e também em mais modernos e assim foram feitas em atenção as antigas tradições. Como em todas as coisas da Terra Santa, há também nisso um profundo sentido profético, cumprido nesse dia, em que se abriram os cinco caminhos de toda a salvação, as cinco sagradas Chagas de Jesus.

Os fariseus a cavalo pararam fora do círculo, no lado oriental do monte, onde o declive é mais suave; o lado que dá para a cidade e por onde eram conduzidos os condenados, é escarpado e íngreme. Estavam ali também cem soldados romanos, nativos das fronteiras entre a Itália e a Suíça, que estavam distribuídos em parte em vários lugares da execução. Alguns ficaram com os dois ladrões, que, por falta de lugar no cume, não tinham levado para cima, mas fizeram deitar de costas, com os braços amarrados aos madeiros transversais das cruzes, na encostas do monte, um pouco abaixo do cume, onde o caminho vira para o sul.

Muita gente, na maior parte das classes baixas, estrangeiros, servos, escravos, pagãos e muitas mulheres, gente que não se importava de contaminar-se, juntavam-se em redor do largo do cume ou formavam grupos, cada vez mais numerosos, nas alturas circunvizinhas, acrescidos de gente que se dirigia a cidade. Para oeste, ao pé do monte Gihon, havia um grande acampamento de forasteiros, vindos para a festa da Páscoa; muitos ficavam olhando de longe, outros se aproximavam pouco a pouco.

Eram cerca de onze horas e três quartos, quando Jesus arrastado com a cruz para o lugar do suplício, caiu por terra e Simão foi expulso de lá. Os carrascos levantaram o Salvador aos arrancos das cordas e desligaram os madeiros da cruz, jogando-os no chão, um em cima do outro. Ai! Que aspecto terrível apresentava Jesus, em pé no lugar do suplício, abatido, triste, coberto de feridas, ensangüentado, pálido. Os carrascos deitaram-no brutalmente por terra, dizendo em tom de mofa (gozação): “Ó rei dos judeus, devemos tomar medida de teu trono?”

Mas Jesus deitou-se de livre vontade sobre a cruz e se a fraqueza lho tivesse permitido, os carrascos não teriam tido necessidade de jogá-lo por terra. Estenderam-no sobre a cruz e marcaram nesta os lugares das mãos e dos pés, enquanto os fariseus em redor riam e insultavam o Divino Salvador.

Levantando-o novamente, conduziram-no amarrado uns setenta passos ao norte, descendo a encosta do monte Calvário, a uma fossa cavada na rocha, que parecia uma cisterna ou adega; levantando o alçapão, empurraram-no para dentro tão brutalmente, que se não fosse por auxílio divino, teria chegado ao fundo duro da rocha com os joelhos esmagados. Ouvi-lhes os gemidos altos e agudos.

Fecharam o alçapão e deixaram uma guarda. Segui-o nesses setenta passos; parece-me lembrar ainda de uma revelação sobrenatural de que os anjos o socorreram, para que não esmagasse os joelhos; mas a pobre vítima gemia e chorava de modo que cortava o coração. A rocha amoleceu, ao contado dos joelhos sagrados do Redentor.

Os carrascos começaram então os preparativos. Havia no centro do largo do suplício uma elevação circular, de talvez dois pés de altura, para a qual se tinham de subir alguns degraus: era o ponto mais alto do penedo do Calvário. Nesse cume estavam cavando a cinzel os buracos nos quais as três cruzes deviam ser plantadas; já tinham tomado medida para isso na extremidade inferior das cruzes.

Colocaram os troncos das cruzes dos ladrões à direita e a esquerda, sobre essa elevação; esses lenhos eram toscamente aparados e mais baixos do que a cruz de Jesus; em cima haviam sido cortados obliquamente. Os madeiros transversais, aos quais os ladrões ainda estavam amarrados, foram depois ajustados um pouco abaixo da extremidade superior dos troncos.

Os carrascos colocaram então a cruz de Nosso Senhor no lugar onde o queriam pregar, de modo que a pudessem comodamente levantar e fazer entrar na escavação. Encaixaram os dois braços da cruz no tronco, pregaram a peça de madeira para os pés, abriram com uma verruma os furos para os cravos e para o prego do título, fincaram a martelo as cunhas sob os braços da cruz e fizeram cá e lá algumas cavidades no tronco da cruz, para dar espaço para a coroa de espinhos e as costas, de modo que o corpo ficasse mais suportado pelos pés do que pendurado pelas mãos, que podiam rasgar-se com o peso do corpo e para que Jesus sofresse o martírio.

Ainda fincaram em cima por um madeiro transversal, para servir de apoio as cordas, com as quais queriam puxar e elevar a cruz e fizeram ainda outros preparativos semelhantes.

Maria e as amigas vão ao Calvário.

Depois do doloroso encontro da SS. Virgem com o Divino Filho, carregando a cruz, quando Maria caiu sem sentidos sobre a pedra angular, Joana Chusa, Suzana e Salomé de Jerusalém, com auxílio de João e do sobrinho de José de Arimatéia, conduziram-na para dentro da casa, impelidos pelos soldados e o portão foi fechado, separando-a do Filho bem-amado, carregado do peso da cruz e cruelmente maltratado.

O amor e o ardente desejo de estar com o Filho, de sofrer tudo com ele e de não o abandonar até o fim, davam-lhe uma força sobrenatural. As companheiras foram com ele a casa de Lázaro, na proximidade da porta Angular, onde estavam reunidas as outras santas mulheres, com Madalena e Marta, chorando e lamentando-se; com elas estavam também algumas crianças. De lá saíram em número de 17, seguindo o caminho doloroso de Jesus.

Vi-as todas, sérias e decididas; não se importavam com os insultos da gentalha, mas impunham respeito pela sua tristeza; passaram pelo fórum, a cabeça coberta pelos véus; no ponto onde Jesus tomara ao ombro a cruz, beijaram a terra; depois seguiram todo o caminho da Paixão de Jesus, venerando todos os lugares onde ele mais sofrera.

Maria e as que eram mais inspiradas, procuravam seguir as pegadas de Jesus e a SS. Virgem, sentindo e vendo-lhes tudo na alma, guiava-as onde deviam parar e quando deviam prosseguir nessa via sacra. Todos esses lugares se lhe imprimiram vivamente na alma; ela contava até os passos e mostrava as companheiras os santos lugares.

Desse modo a primeira e mais tocante devoção da Igreja foi escrita no coração amoroso de Maria, Mãe de Deus; escrita pela espada profetizada por Simeão; os santos lábios da Virgem transmitiram-na aos companheiros do sofrimento e por esses a nós. Esta é a santa tradição vinda de Deus ao coração da Mãe Santíssima e do coração da Mãe aos corações dos filhos; assim continua sempre a tradição na Igreja.

Quando se vem as coisas como as vejo, parece este modo de transmissão mais vivo e mais santo. Os judeus de todos os tempos sempre veneraram os lugares consagrados por uma ação santa ou por um acontecimento de saudosa memória. Eles não esquecem um lugar onde se deu uma coisa sobrenatural: marcam-no com monumento de pedras e vão em  peregrinação para rezar. Assim também nasceu a devoção da Via Sacra, não por uma intenção premeditada, mas da natureza dos homens e das intenções de Deus para com seu povo, do fiel amor de uma mãe, e, por assim dizer, sob os pés de Jesus, que foi o primeiro que a trilhou.

Chegou então esse piedoso grupo á casa de Verônica, onde entraram, porque Pilatos com os cavaleiros e os duzentos soldados, voltando da porta da cidade, lhes vinham ao encontro. Ali Maria e os companheiros viram o sudário, com a imagem do rosto de Jesus e entre lágrimas e suspiros, exaltaram a misericórdia de Jesus para com sua fiel amiga.

Levaram o cântaro com o vinho aromático, com que Verônica não conseguira confortar Jesus e dirigiram-se todos, com Verônica, à porta do Gólgota. No caminho se lhes juntaram ainda muitas pessoas bem intencionadas e outras comovidas pelos acontecimentos, entre as quais também certo número de homens, formando um cortejo que, pela ordem e serenidade com que passou pelas ruas, me fez uma singular impressão. Esse cortejo era quase maior do que aquele que conduziu a Jesus, não contando o povo que o acompanhou.

As angústias e dores aflitivas de Maria nesse caminho, ao ver o lugar do suplício, com as cruzes no alto, não se podem exprimir em palavras; a alma amantíssima da Virgem sentia os sofrimentos de Jesus e era ainda torturada pelo sentimento de não poder segui-Lo na morte. Madalena, toda transtornada e como embriagada de dor, andava cambaleando, como que arremessada de angústia em angústia; passava do silêncio ás lamentações, do estupor ao desespero, das lamentações às ameaças. Os companheiros eram obrigados a sustê-la, a protegê-la, a exortá-la e a escondê-la da vista dos curiosos.

Subiram o monte Calvário pelo lado mais suave, ao oeste e aproximaram-se em três grupos do aterro circular do cume, a certa distância, um atrás do outro. A Mãe de Jesus, a sobrinha desta, Maria de Cléofas, Salomé e João avançaram até o lugar do suplicio; Marta, Maria Helí, Verônica, Joana Chusa, Suzana e Maria, mãe de Marcos, ficaram um pouco afastadas, rodeando Maria Madalena, que não podia conter a dor. Um pouco mais atrás estavam ainda sete pessoas e entre os três grupos havia gente boa, que mantinha uma certa comunicação entre eles. Os fariseus a cavalo estavam em diversos lugares em redor do local do suplicio, enquanto os soldados romanos ocupavam as cinco entradas.

Que espetáculo doloroso para Maria: o lugar do suplicio, o cume com as cruzes, a terrível cruz do Filho adorado e diante dela, no chão, os martelos, as cordas, os horrendos pregos e os repelentes carrascos, meio uns, quase embriagados, fazendo o horroroso trabalho entre imprecações. Os troncos das cruzes dos ladrões já estavam arvorados, munidos de paus encaixados para subir. A ausência de Jesus ainda prolongava o martírio da Mãe Santíssima; ela sabia que ainda estava vivo; desejava vê-lo, tremia ao pensar em que estado O veria; ia vê-Lo em indizíveis tormentos.

Desde a madrugada até as dez horas, quando foi pronunciada a sentença, caíra várias vezes chuva de pedra; durante o caminho de Jesus ao Calvário clareou o céu e brilhava o sol; mas pelas doze horas começou uma neblina avermelhada a velar o sol.

Fonte: http://www.derradeirasgracas.com/3.%20Vários%20Assuntos/O%20relógio%20da%20Paixão/JESUS%20RECEBE%20A%20CRUZ%20E%20A%20ABRAÇA%20POR%20NÓS.%2011%2000.htm


Clipe da Crucificação de Jesus – Getsemani

março 29, 2010

AS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA DE LOURDES: 17ª APARIÇÃO

março 29, 2010

17ª APARIÇÃO: O “MILAGRE DO CÍRIO”

A Virgem chamou Santa Bernadette durante a noite de 6 de abril. Tendo-se espalhado que a vidente iria à Gruta, 1200 pessoas já a aguardavam quando ela chegou por volta das 6h.

O êxtase durou 45 minutos.

O Dr. Dozous e outros constataram durante 15 minutos o “milagre do círio”:

Bernadette juntou as mãos sobre o fogo de uma vela, como para protegê-lo do vento. A chama encostava na pele das mãos e saía entre seus dedos.

― “Está se queimando!”, bradou alguém. Mas a vidente prosseguia insensível.

O médico verificou depois que ela não tinha sofrido qualquer queimadura.

Fonte: http://lourdes-150-aparicoes.blogspot.com/2009/01/17-aparicao-quarta-feira-7-de-abril.html


PAIXÃO DE CRISTO – NOVA JERUSALÉM, PE

março 28, 2010

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Parte 5

Parte 6

Parte 7


O RELÓGIO DA PAIXÃO: 10:00 ÀS 11:00 hs. JESUS, POSPOSTO A BARABÁS, É CONDENADO A MORTE.

março 28, 2010

O RELÓGIO DA PAIXÃO
DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

   10:00 ÀS 11:00 hs. JESUS, POSPOSTO A BARABÁS, É CONDENADO A MORTE.

Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo? (Is 53, 8)

O POVO RECLAMA A MORTE DE JESUS

Senhor, não fiqueis silencioso, não permaneçais surdo, nem insensível, ó Deus. Porque eis que se tumultuam vossos inimigos, levantam a cabeça aqueles que vos odeiam… conspiram contra vossos protegidos. (Sal 82, 2-4)

Pilatos perguntou: Que farei então de Jesus, que é chamado o Cristo? Todos responderam: Seja crucificado! … Mas que mal fez ele?… (Mt 27, 22-23)

Pilatos falou-lhes outra vez: E que quereis que eu faça daquele a quem chamais o rei dos judeus? Eles tornaram a gritar: Crucifica-o! Pilatos replicou: Mas que mal fez ele? Eles clamavam mais ainda: Crucifica-o! (Mc 15, 12-14)

Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e segundo essa lei ele deve morrer, porque se declarou Filho de Deus. (Jo 19, 7)

Estas palavras impressionaram Pilatos. Entrou novamente no pretório e perguntou a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe respondeu. Pilatos então lhe disse: Tu não me respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar e para te crucificar? Respondeu Jesus: Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado. Por isso, quem me entregou a ti tem pecado maior. Desde então Pilatos procurava soltá-lo. Mas os judeus gritavam: Se o soltares, não és amigo do imperador, porque todo o que se faz rei se declara contra o imperador. (Jo 19, 8-12)

O POVO INSISTE NA MORTE DE JESUS

“Sim, eu ouvi o vozerio da multidão; em toda parte, o terror! Conspirando contra mim”… (Sal 30, 14)

E gritavam ainda mais forte: Seja crucificado! (Mt 27, 23)

(Era a Preparação para a Páscoa, cerca da hora sexta.) Pilatos disse aos judeus: Eis o vosso rei! Mas eles clamavam: Fora com ele! Fora com ele! Crucifica-o! Pilatos perguntou-lhes: Hei de crucificar o vosso rei? Os sumos sacerdotes responderam: Não temos outro rei senão César! (Jo 19, 14-15)

PILATOS PRONUNCIA A SENTENÇA – LIBERTA BARRABÁS E ENTREGA JESUS À MORTE

Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor. (Efésios 5, 2)

Querendo Pilatos satisfazer o povo, soltou-lhes Barrabás e entregou Jesus, depois de açoitado, para que fosse crucificado. (Mc 15, 15)

“Sou inocente no Sangue deste Homem!” (Mt 27, 24)

Pilatos viu que nada adiantava, mas que, ao contrário, o tumulto crescia. Fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante do povo e disse: Sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá convosco! E todo o povo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos! Libertou então Barrabás, mandou açoitar Jesus e lho entregou para ser crucificado. (Mt 27, 24-26)

Pai Nosso…, Ave Maria…, Glória ao Pai…

Pela sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.

Meu Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.

            Segundo as Visões de Anna Catharina Emmerich: 

Jesus condenado à more na Cruz

            Pilatos, que não procurava a verdade, mas apenas uma saída para a dificuldade, estava mais indeciso que nunca. A consciência dizia-lhe: “Jesus é inocente”. A esposa mandara dizer-lhe: “Jesus é santo”. A superstição dizia-lhe: “É um inimigo de teus deuses”. A covardia dizia-lhe: “É um deus e vingar-se-à”.

Interroga mais uma vez a Jesus, em tom inquieto e solene e Jesus lhe fala dos seus mais ocultos crimes, prediz-lhe um futuro e uma morte miseráveis e que um dia virá, sentado sobre as nuvens do céu, pronunciar sobre ele um juízo justo, o que deita na falsa balança da justiça de Pilatos um novo peso contra a intenção de soltar Jesus. Ficou furioso por se ver em toda a nudez de sua ignomínia interior diante de Jesus, a quem não podia compreender; sentiu-se indignado daquele que mandara açoitar e que podia mandar crucificar, lhe predizer um fim miserável; dessa boca, quem nunca acusada de mentira,  que não proferia uma só palavra em sua própria defesa, ousar, em ocasião extremamente arriscada, citá-lo perante seu justo tribunal, naquele dia futuro.

Tudo isso lhe ofendeu profundamente o orgulho; mas como não havia sentimento dominante nesse homem miserável e indeciso, ficou cheio de medo diante da ameaça do Senhor e fez a última tentativa de libertar Jesus. Ouvindo, porém, a ameaça dos judeus de acusá-lo perante o imperador, se soltasse Jesus, foi dominado por outro pavor covarde: o medo do imperador terrestre venceu o receio do rei cujo reino não era deste inundo. O celerado covarde e irresoluto pensava consigo: “Se Ele morrer, morrerá também com Ele o que sabe de mim e o que me predisse”.

À ameaça dos judeus de acusá-lo perante o imperador, decidiu-se Pilatos a fazer-lhes a vontade, contrariamente à promessa que fizera à esposa, contrariamente à justiça e à própria convicção. Por medo do imperador, entregou aos judeus o sangue de Jesus, mas para a própria consciência não tinha senão água, que fez derramar sobre as mãos, exclamando: “Sou inocente do sangue deste Justo, respondereis por Ele”.

– Não, Pilatos, tu és responsável, pois que O dizes Justo e Lhe derramas o sangue; és o juiz injusto, sem consciência. O mesmo sangue de que queria lavar as mãos e de que não podia lavar a alma, os sanguinários judeus chamaram-nO sobre si e seus filhos, amaldiçoando-se a si mesmos. O sangue de Jesus, que atrai a misericórdia de Deus sobre nós, fizeram-nO chamar a vingança sobre eles, gritando: “Que o seu sangue caia sobre nós e nossos filhos”.

         Ouvindo esses gritos sanguinários, Pilatos mandou preparar tudo para pronunciar a sentença. Deu ordem para trazer outras vestes solenes e vestiu-as; puseram-lhe na cabeça uma espécie de coroa ou diadema, no qual havia uma pedra preciosa ou outra coisa brilhante; vestiram-no também de outro manto e diante dele levavam um bastão. Foi acompanhado de muitos soldados; oficiais do tribunal iam na frente, transportando uma coisa e seguiam-se escreventes, com rolos de papel e tabuinhas, precedidos por um homem que tocava trombeta.

Assim saiu do palácio para o fórum, onde, em frente ao lugar da flagelação, havia um belo assento elevado, construído de pedras, para pronunciar as sentenças; só depois de pronunciadas desse lugar tinham as sentenças vigor legal. Esse tribunal era chamado Gábata e era um estrado circular, para o qual subiam escadas de vários lados; em cima havia um assento para Pilatos e atrás dele um banco, para outros membros do tribunal.

Muitos soldados cercavam esse tribunal e em parte ficavam nos degraus das escadas. Muitos dos fariseus já tinham ido do palácio de Pilatos ao Templo. Somente Anás e Caifás, com cerca de vinte e oito outros, se dirigiram ao tribunal no fórum, logo que Pilatos começou a vestir as vestimentas oficiais. Os dois ladrões já haviam sido conduzidos ao tribunal, quando Pilatos apresentou Jesus ao povo, dizendo: Ecce homo! O assento de Pilatos estava coberto de uma manta vermelha e sobre essa havia uma almofada azul, com galões amarelos.

         Jesus, ainda vestido do rubro manto derrisório, com a coroa de espinhos na cabeça, as mãos atadas, foi então conduzido pelos esbirros e soldados que O cercavam, entre as vaias do povo, para o tribunal, onde O colocaram entre dois ladrões. Pilatos, sentado no tribunal, disse mais uma vez, em voz alta, aos inimigos de Jesus: “Eis aí o vosso rei!” Eles, porém, gritaram: “Fora! Morra! Crucifica-O!” – Pilatos disse: “Devo então crucificar vosso rei?” – Mas os príncipes dos sacerdotes gritaram: “Não temos outro rei senão o César”.

Então Pilatos não disse mais palavra em favor de Jesus, nem mais Lhe falou, mas começou a pronunciar a sentença. Os dois ladrões tinham sido condenados, já havia mais tempo, à morte na cruz, mas a execução fora adiada para esse dia, a pedido dos Sumos Sacerdotes, porque queriam ultrajar Jesus, crucificando-O entre assassinos ordinários. As cruzes dos ladrões já estavam ao lado deles, no chão, trazidas pelos ajudantes dos carrascos. A Cruz de Nosso Senhor ainda não estava lá, provavelmente porque a sentença ainda não fora pronunciada.

         A Santíssima Virgem, que se tinha afastado depois da apresentação de Jesus por Pilatos e da gritaria sanguinária dos judeus, abriu caminho, em companhia de algumas mulheres, por entre a multidão e aproximou-se do tribunal, para ouvir a sentença de morte, proferida contra seu Filho e Deus; Jesus estava nos degraus da escada, diante de Pilatos, rodeado de soldados e os inimigos lançavam-Lhe olhares cheios de ódio e escárnio. Um toque de trombeta ordenou silêncio e Pilatos pronunciou, com a raiva de um covarde, a sentença de morte contra o Salvador.

         Senti-me sufocada de indignação, diante de tanta baixeza e duplicidade; o aspecto desse celerado arrogante, do triunfo e ódio sanguinário dos príncipes dos sacerdotes, satisfeitos após tantos esforços fatigantes, o estado lastimoso e os sofrimentos do pacientíssimo Salvador, a indizível angústia e os tormentos da Mãe Santíssima e das santas mulheres, a furiosa ansiedade com que os judeus esperavam a morte da presa, o frio orgulho dos soldados e minha visão das horrendas figuras diabólicas entre a multidão do povo, tudo isso me tinha aniquilado completamente. Ai! Percebi que eu devia estar no lugar de Jesus, meu querido esposo; então a sentença seria justa. Eu estava tão dilacerada pela dor, que não me lembro mais da ordem exata das coisas. Vou contar mais ou menos o que me lembro.

         Pilatos começou por um longo preâmbulo, em que se referiu com os mais pomposos títulos ao imperador Cláudio Tibério. Depois expôs a acusação contra Jesus, que fora condenado à morte pelo Sumos Sacerdotes e cuja crucificação tinha sido unanimemente exigida pelo povo, por ser um rebelde, perturbador da paz pública, violador da lei judaica, por se fazer chamar Filho de Deus e rei dos judeus.

Quando, porém, acrescentou ainda que achava essa sentença justa, – ele que por várias horas continuara a declarar Jesus inocente, quase não pude conter-me mais, à vista desse homem infame e mentiroso. Ele disse ainda: “Por isso condeno Jesus Nazareno, rei dos judeus, a ser pregado na Cruz”. Depois deu ordem aos carrascos que fossem buscar a cruz. Também me lembro, mas não tenho plena certeza, que ele quebrou uma vara comprida, cuja metade era visível e lançou os pedaços aos pés de Jesus.

         A essas palavras a Mãe de Jesus caiu por terra sem sentidos e como morta; agora então estava decidida, era certa a morte de seu santíssimo e amantíssimo Filho e Salvador, morte horrível, dolorosa, ignominiosa. As companheiras e João levaram-na para fora da multidão, para que aqueles homens cegos de coração não pecassem, insultando a dolorosa Mãe do Salvador; mas Maria não podia deixar de seguir o caminho da Paixão de Jesus; as companheiras viram-se obrigadas a levá-la outra vez de lugar em lugar; pois o culto misterioso de unir-se-Lhe nos sofrimentos impelia a Santíssima Mãe à oferecer o sacrifício de suas lágrimas em todos os lugares onde o Redentor, seu Filho, sofrera pelos pecados dos homens, seus irmãos; e assim a Mãe do Senhor consagrou com as lágrimas todos esses santos lugares e tomou posse deles para a futura veneração pela Igreja, Mãe de todos nós, como Jacó erigiu uma pedra e, ungindo-a com óleo, consagrou-a em memória da promissão, que ali recebera.

         A sentença foi escrita, mesmo no tribunal, por Pilatos e copiada mais de três vezes, por aqueles que lhe estavam atrás. Enviaram vários mensageiros, porque alguns dos documentos precisavam ser assinados por outras pessoas; não me lembro se esses documentos faziam parte da sentença ou se eram outras ordens. Contudo foram também alguns desses documentos levados a lugares distantes.

Havia, porém, ainda outra sentença, escrita por Pilatos mesmo e que lhe provava claramente a duplicidade; pois tinha teor totalmente diferente da sentença que pronunciara; vi como a escreveu contra a vontade, com o espírito atormentado e um anjo irado a dirigir-lhe a mão. Esse documento, de cujo conteúdo tenho apenas uma lembrança vaga, dizia mais ou menos o seguinte:

“Compelido pelos Sumos Sacerdotes e o Sinédrio e ameaçado por uma iminente insurreição do povo, que acusavam Jesus de Nazaré de agitação contra a autoridade, de blasfêmia e de desprezo da lei judaica, exigindo-Lhe a morte, entreguei-lhes o mesmo Jesus, para ser crucificado, não tanto movido pelas acusações, que em verdade não achei fundo, não tanto movido pelas acusações, que em verdade não achei fundadas, mas para não ser acusado perante o imperador, de favorecer a insurreição e negar justiça aos judeus. Entreguei-O porque exigiram com violência a morte, como transgressor da lei; e com Ele dois ladrões, já antes condenados, cuja execução fora adiada por maquinações dos judeus, porque queriam que fossem executados junto com Jesus”.

         Nesse documento, pois, escreveu o malvado um relatório totalmente diferente. – Depois escreveu ainda a inscrição da cruz em três linhas, com verniz, sobre uma tabuinha de cor escura. O documento em que Pilatos desculpava a sentença, foi copiado várias vezes e enviando a diversos lugares.

Os Sumos Sacerdotes discutiram ainda com Pilatos no tribunal; não estavam contentes com a sentença, queixando-se sobretudo porque tinha escrito que eles haviam exigido o adiamento da execução dos ladrões, para que fossem executados com Jesus; contestaram também o título de Jesus: queriam que escrevesse “que se declarou rei dos judeus” e não simplesmente “rei dos judeus”.

Mas Pilatos perdeu a paciência, tratou-os com arrogância, gritando furioso: “O que escrevi, fica escrito”. Ainda insistiram, dizendo que a Cruz de Jesus não devia ficar mais alta que as dos ladrões; era preciso, porém, fazê-la mais alta, porque, por um erro dos operários, ficara mais curta a parte de acima da cabeça, não cabendo o título escrito por Pilatos; esse protesto contra o alongamento da cruz era apenas um subterfúgio, para evitar a inscrição, que lhes parecia injuriosa.

Mas Pilatos não cedeu e assim foram obrigados a alongar a cruz, adaptando-lhe uma peça de madeira, à qual se pudesse fixar o título. Assim concorreram várias circunstâncias para dar à cruz aquela forma significativa, que sempre lhe tenho visto, isto é, com os braços um pouco elevados, como os galhos de uma árvore, os quais, ao sair do tronco, se estendem para cima; tinha a forma da letra Y, com a linha do centro alongada por entre os braços. Os dois braços eram mais finos do que o tronco e estavam embutidos nesse, sendo os encaixes reforçados de ambos os lados, por uma cunha fincada por baixo. Como, porém, o tronco acima da cabeça, por um erro, tivesse saído curto demais para se fixar bem visível a inscrição de Pilatos, foi preciso ajustar mais uma peça ao tronco. No lugar dos pés pregaram um pedaço de madeira, para os sustentar.

         Enquanto Pilatos pronunciava a sentença injusta, vi Cláudia Prócula, sua mulher, remeter-lhe o penhor e separar-se dele Na mesma noite fugiu ocultamente do palácio e foi para junto dos amigos de Jesus, que a levaram a um esconderijo, num subterrâneo da casa de Lázaro, em Jerusalém. Vi também um amigo de Jesus gravar, numa pedra esverdeada atrás do tribunal do Gábata, duas linhas, que diziam respeito a sentença injusta de Pilatos e à separação da mulher do Procurador; ainda me lembro das palavras “judex injustus” e do nome “Cláudia Prócula”.

         Mas não me recordo se foi no mesmo dia ou alguns dias mais tarde; lembro-me apenas que nesse lugar do fórum estava um numeroso grupo de homens conversando, enquanto o outro homem, encoberto por eles, gravou aquelas linhas, sem ser visto. Vi que aquela pedra ainda está, desconhecida embora, em Jerusalém, nos alicerces duma casa ou duma Igreja, situada onde antigamente era o Gábata. Cláudia Prócula tornou-se cristã e depois de se ter encontrado com S. Paulo, tornou-se-lhe amiga dedicada.

         Pronunciada a sentença, enquanto Pilatos escrevia e discutia com os Sumos Sacerdotes, era Jesus entregue aos carrascos; antes houvera ainda algum respeito ao tribunal, mas depois estava o Divino Mestre inteiramente à mercê desses homens abomináveis. Trouxeram-Lhe a roupa, que Lhe tinham tirado para escarnecê-Lo em casa de Caifás; força guardada e parece-me que também fora lavada por gente compassiva, pois estava limpa.

Creio também que era costume entre os romanos levar os condenados à execução, vestidos de sua própria roupa. Despiram de novo Jesus: desataram-Lhe as mãos, para poder revesti-Lo, arrancaram-Lhe o manto vermelho do corpo chagado, abrindo-Lhe assim muitas feridas. Ele mesmo vestiu, com mãos trêmulas, a faixa em torno da cintura e os carrascos lançaram-Lhe o escapulário sobre os ombros.

Como, porém, a coroa de espinhos fosse muito larga para deixar passar-Lhe pela cabeça a túnica sem costura, que Lhe fizera a Virgem Santíssima, arrancaram-Lhe a coroa e todas as feridas começaram a sangrar, com indizíveis dores. Depois de Lhe porem a túnica sobre as feridas do corpo, vestiram-nO da veste larga de Lã branca, que cingiram com a faixa larga e puseram-Lhe finalmente o manto. Feito isso, amarraram-nO novamente com o cinturão, munido de pontas de ferro, no qual estavam presas as cordas para conduzi-Lo. Durante todo esse tempo batiam e empurravam-nO, tratando-O com atroz crueldade.

         Os dois ladrões estavam um ao lado direito, outro ao lado esquerdo de Jesus; tinham as mãos amarradas e pendia-lhes, como a Jesus diante do tribunal, uma cadeia de ferro do pescoço. Vestiam apenas um pano na cintura e um gibão semelhante a um escapulário, de fazenda ordinária, sem mangas e aberto nos lados; na cabeça tinham bonés, tecidos de palha, que se pareciam com barretinhas estofadas de crianças. A pele dos ladrões era de um pardo sujo, coberta de cicatrizes, causadas pela flagelação passada. Aquele que se converteu depois, já estava calmo e pensativo; o outro, porém, irritado e impertinente, unindo-se aos carrascos para insultar e amaldiçoar Jesus, que os olhava a ambos com olhos cheios de caridade e desejo de salvá-los, oferecendo também por eles todos os seus sofrimentos.

         Os carrascos estavam ocupados em juntar todas as ferramentas; preparavam-se para a triste e terrível marcha, em que o nosso amado e doloroso Salvador quis carregar o peso dos pecados de nós todos, homens ingratos e para os expiar, ai derramar o santíssimo Sangue do cálice de seu Corpo, transpassado pelos homens mais abomináveis.

         Anás e Caifás terminaram afinal a discussão acalorada com Pilatos; receberam algumas tiras compridas ou rolos de pergaminho, com cópias dos documentos e dirigiram-se apressadamente ao Templo; e só por pouco não chegaram tarde.

         Então se separaram os Sumos Sacerdotes do verdadeiro Cordeiro pascal; correram ao Templo de pedra, para imolar e comer o cordeiro simbólico e a realização do símbolo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, fizeram-nO conduzir por vis carrascos ao altar da cruz. Separaram-se ali os dois caminhos, dos quais um conduzia ao símbolo e outro à realização do Sacrifício; abandonaram o Cordeiro de Deus, a pura Vítima expiatória, que tentaram macular exteriormente e insultar com todo o horror da perversidade, entregaram-nO a carrascos ímpios e desumanos e correram ao Templo de pedra, para imolar cordeiros lavados, purificados e bentos.

Haviam tomado todo o cuidado para não se sujarem exteriormente e tinham as almas todas sujas, transbordantes de ódio, inveja e ultrajes. – “Que o seu sangue caia sobre nós e nossos filhos”, tinham exclamado e com essas palavras cumpriram a cerimônia, impuseram a mão de sacrificador sobre a cabeça da vítima. Separaram-se ali os dois caminhos, que conduziam ao altar da lei e ao altar da graça.

Fonte: http://www.derradeirasgracas.com/3.%20Vários%20Assuntos/O%20relógio%20da%20Paixão/JESUS,%20POSPOSTO%20A%20BARABÁS,%20É%20CONDENADO%20A%20MORTE.%2010%2000.htm


COMO VAI A SUA AUTOESTIMA?

março 28, 2010

Como vai a sua autoestima?

Identifique suas qualidades, não só seus limites

Cada um de nós possui representações mentais internas das pessoas mais importantes em nossa vida, inclusive de nós mesmos. A autorrepresentação, ou autoimagem, pode ser coerente ou distorcida. Além disso, nós trazemos uma imagem mental do que gostaríamos de ser ou do que pensamos que deveríamos ser; é o ideal de ego. A autoestima é o resultado da correspondência entre a nossa autoimagem e o nosso ideal de ego. Quanto mais achamos que estamos próximos do jeito que gostaríamos de ser, tanto mais teremos a autoestima equilibrada; de forma contrária, quanto mais estivermos frustrados com os nossos próprios objetivos e aspirações, tanto mais a nossa autoestima estará baixa.

A nossa autoimagem exerce uma grande influência em nossa vida, em nosso desempenho profissional e em nosso relacionamento interpessoal. O que pensamos a nosso respeito, a nossa autoimagem ou senso de autovalorização, influencia cada parte de nossa vida.

Aqueles que têm um bom e saudável senso de autovalorização se sentem importantes, acreditam que têm valor e irradiam esperança, alegria e confiança. Ao contrário, uma autoimagem inadequada nos tira a energia e o poder de atenção, necessários para bem nos relacionarmos com os outros; e um bom relacionamento interpessoal é fundamental em tudo o que fazemos. Nosso senso de inadequação nos impossibilita amar e dar atenção aos outros, pois nos leva a nos sentir rejeitados e incompreendidos; temos medo do que possam pensar de nós, não nos sentimos bem em grupos e não nos aceitamos como somos.

Ter uma autoimagem inadequada faz com que nos preocupemos com as opiniões, elogios ou críticas dos outros, como fatores determinantes para a nossa vida. Um senso de autovalorização muito baixo nos torna escravos da opinião dos outros e nos impede de sermos nós mesmos.

Por isso, quero convidar você para fazer um exercício neste momento e olhar para a sua imagem mental: O que você vê em si mesmo? Você está satisfeito com o que vê? Qual a visão que você tem de si mesmo quando se compara com outras pessoas?

Anote cinco pontos fortes e cinco fracos que você observa em si mesmo.

Em qual lista que você levou mais tempo para fazer as anotações? Na dos pontos fortes ou dos fracos?

Precisamos aprender a nos ver como Deus nos vê, a descobrir quem somos, a assumir o nosso valor, que vem do fato de sermos imagem e semelhança de Deus, filhos de Deus, filhos amados de Deus.

São Paulo, na sua Carta aos Romanos (Rom 12,3), nos ensina: “Pela graça que me foi dada, recomendo a cada um de vós: ninguém faça de si uma ideia muito elevada, mas tenha de si uma justa estima, de acordo com o bom senso e conforme a medida da fé que Deus deu a cada um”.

A nossa autoestima precisa ser equilibrada: nem alta, nem baixa, para que saibamos lidar com os nossos limites e fracassos, e para que tenhamos relacionamentos sadios e uma autoimagem correta, sem depreciações nem elevações. Por isso, uma autoestima equilibrada é fundamental para todos nós, filhos de Deus, para que possamos evangelizar, para que sejamos alegres e felizes em toda e qualquer circunstância.

O que fazer então para termos uma autoestima e uma autoimagem positiva e equilibrada?

Comece trabalhando a sua autovalorização, dando-se conta de que você é uma pessoa criada por Deus, imagem e semelhança de Deus, com limites e com qualidades. Você precisa entender que o seu valor não está no que você faz ou tem, está em você, no seu ser pessoa, com tudo o que você é, seu temperamento, seus dons e talentos.

Procure identificar quais são as suas qualidades e não só os seus limites. Aprender a lidar com os nossos limites, entender que ninguém é perfeito, que todos nós temos limitações e qualidades, é fundamental para uma autoestima e uma autoimagem equilibrada. Aprenda a não se cobrar tanto, e a não cobrar do outro também. Aprenda a se aceitar como você é. Nesse processo, aprender com as experiências vividas, com os erros e fracassos é fundamental. De tudo o que vivemos, precisamos tirar um lado positivo, uma aprendizagem, assim, nada passa em vão, tudo tem o seu devido proveito.

Atividades físicas, fazer coisas simples no seu cotidiano que você gosta, ter um tempinho para cuidar de si mesmo, do seu corpo e de sua saúde, também favorecem a autoestima.

Concluindo: para se ter uma autoestima equilibrada o mais importante é termos uma correta autovalorização, sabendo lidar com os nossos limites e fracassos. Como há um bom caminho pela frente a seguir, para trabalharmos em nós mesmos, coloquemo-nos a caminho. O colocar-se a caminho já é uma atitude que faz crescer a autoestima e, aos poucos, dia após dia, num processo que, às vezes, é lento, mas que precisa ser contínuo, vamos atingindo a justa estima de nós mesmos.

Foto

Manuela Melo
psicologia@cancaonova.com
Missionária da Comunidade Canção Nova, formada em Psicologia, com especialização em Logoterapia e MBA em Gestão de Recursos Humanos.

Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=11799


O RELÓGIO DA PAIXÃO: 09:00 ÀS 10:00 hs. JESUS É COROADO DE ESPINHOS.

março 27, 2010

O RELÓGIO DA PAIXÃO
DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

   09:00 ÀS 10:00 hs. JESUS É COROADO DE ESPINHOS.

Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que sigais os seus passos… (1 Ped 2, 21)

JESUS É ULTRAJADO E COROADO DE ESPINHOS

Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. (Is 53, 3)

Os soldados teceram de espinhos uma coroa e puseram-lha sobre a cabeça… diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas. (Jo 19, 2-3)

Arrancaram-lhe as vestes e colocaram-lhe um manto escarlate. Depois, trançaram uma coroa de espinhos, meteram-lha na cabeça e puseram-lhe na mão uma vara. Dobrando os joelhos diante dele, diziam com escárnio: Salve, rei dos judeus! Cuspiam-lhe no rosto e, tomando da vara, davam-lhe golpes na cabeça. (Mt 27, 28-30)

PILATOS OUTRA VEZ O DECLARA INOCENTE

Se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira. (Is 53, 9)

Pilatos saiu outra vez e disse-lhes: Eis que vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele nenhum motivo de acusação. (Jo 19, 4)

JESUS É APRESENTADO AO POVO

À sua vista, muitos ficaram embaraçados – tão desfigurado estava que havia perdido a aparência humana (Is 52, 14)

Não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos… (Is 53, 2)

“Eis o Homem!”

Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse: Eis o homem! (Jo 19, 5)

OS PRÍNCIPES DOS JUDEUS INSTIGAM O POVO A PEDIR A LIBERTAÇÃO DE BARRABÁS E A MORTE DE JESUS

Ó meu Deus, escutai minha oração, atendei às minhas palavras, pois homens soberbos insurgiram-se contra mim; homens violentos odeiam a minha vida: não têm Deus em sua presença. (Sal 53, 4-5)

Mas os pontífices instigaram o povo para que pedissem de preferência que lhes soltasse Barrabás. (Mc 15, 11)

Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo que pedisse a libertação de Barrabás e fizesse morrer Jesus. O governador tomou então a palavra: Qual dos dois quereis que eu vos solte? Responderam: Barrabás! (Mt 27,20-21)

A MULHER DE PILATOS

Quem pensou em defender sua causa,… (Is 53, 8)

“Nada faças a esse Justo” (Mt 27, 19)

Enquanto estava sentado no tribunal, sua mulher lhe mandou dizer: Nada faças a esse justo. Fui hoje atormentada por um sonho que lhe diz respeito. (Mt 27, 19)

Pai Nosso…, Ave Maria…, Glória ao Pai…

Pela sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.

Meu Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.

            Segundo as Visões de Anna Catharina Emmerich: 

Jesus é coroado de espinhos e escarnecido pelos soldados.

Durante a flagelação falou Pilatos ainda várias vezes ao povo, que uma vez até gritou: “Ele deve morrer, ainda que todos nós também pereçamos”. Quando Jesus foi conduzindo ao corpo da guarda, para ser coroado de espinhos, ainda gritaram: “Morra! Morra!” pois chegavam cada vez novas turbas de judeus, que pelos emissários dos sumos sacerdotes eram incitados a gritar assim.

Houve depois uma curta pausa. Pilatos deu ordens aos soldados. Os sumos sacerdotes e os conselheiros, que estavam sentados em bancos, de ambos os lados da rua, à sombra das árvores ou sob lonas estendidas, diante do terraço de Pilatos, mandarem os criados trazer alimentos e bebida. Vi também Pilatos de novo perturbado pela superstição; retirou-se sozinho, para oferecer incenso aos deuses e por certos sinais descobrir-lhes a vontade.

Vi que depois da flagelação a SS. Virgem e as amigas, tendo enxugado o sangue de Jesus, se afastaram do fórum. Vi-as com os panos ensangüentados, numa pequena casa encostada a um muro; não era longe do fórum; não me lembro mais de quem era. Não me recordo de ter visto João durante a flagelação.

Jesus foi coroado de espinhos e escarnecido no pátio interior do corpo da guarda, construído sobre os cárceres, ao lado do fórum. Esse pátio era cercado de colunas e todas as entradas tinham sido abertas. Havia ali cerca de cinqüenta miseráveis patifes, sequazes dos soldados, servos dos carcereiros, soldados e auxiliares dos carrascos, escravos e os criminosos que flagelaram Nosso Senhor; esses todos tomaram parte ativa nas crueldades praticadas em Jesus. No começo o povo tentou entrar, mas pouco depois cercaram mil soldados romanos o edifício. Permaneciam nas fileiras, mas com as zombarias e risos provocavam ainda o cruel exibicionismo dos carrascos para redobrarem as torturas de Jesus, animando-os com as risadas, como o aplauso anima os atores no palco.

Rolaram para o meio do pátio o pedestal de uma velha coluna, no qual havia um buraco, que talvez tivesse servido para nele ajustar a coluna. Nesse pedestal colocaram um escabelo redondo e baixo, que por detrás tinha uma espécie de cabo, para o manejar; por maldade cobriram o escabelo de pedregulho agudo e cacos de louça.

Arrancaram de novo toda a roupa do corpo ferido de Jesus e impuseram-Lhe um manto de soldado, curto, vermelho, velho e já roto, que nem lhe chegava até os joelhos. Pendiam dele ainda alguns restos de borlas amarelas; jazia num canto do quarto dos verdugos, que costumavam impô-lo aos que tinham açoitado, seja para enxugar-lhes o sangue, seja para escarnecê-los. Arrastaram a Jesus para a coluna e empurraram-nO brutalmente, com o corpo despido e ferido, sobre o escabelo coberto de pedras e cacos.

Depois lhe puseram a coroa de espinhos na cabeça. Essa tinha dois palmos de altura, era muito espessa e trançada com arte; em cima tinha uma borda um pouco saliente. Puseram-Lha em redor da fronte, como uma ligadura e ataram-na atrás com muita força, de modo que formavam uma coroa ou um chapéu. Era artisticamente trançada de três varas de espinheiro, da grossura de um dedo, que tinham crescido alto, através dos espessos arbustos. Os espinhos, pela maior parte, foram propositalmente virados para dentro. Pertenciam a três diferentes espécies de espinheiros, que tinham alguma semelhança com a nossa cambroeira, o abrunheiro e espinheiro branco. Em cima tinham acrescentado uma borda, trançada de um espinheiro semelhante à nossa sarça silvestre e pela qual pegavam e puxavam brutalmente a coroa. Vi o lugar onde os meninos foram buscar esses espinhos.

Puseram-Lhe também na mão um grosso caniço, com um tufo na ponta. Fizeram tudo isso com solenidade derrisória, como se O coroassem de fato rei. Tiravam-lhe o caniço da mão e batiam com tanta força a coroa, que os olhos de Nosso Senhor se enchiam de sangue. Curvavam os joelhos diante dEle, mostravam-Lhe a língua, batiam e cuspiam-Lhe no rosto, gritando: “Salve, rei dos judeus!” Depois, entre gargalhadas, fizeram-nO cair no chão, junto com o escabelo e tornaram a colocá-Lo sobre ele aos empurrões.

Não posso relatar todas as torturas e ultrajes que os carrascos inventaram, para escarnecer o pobre Salvador. Ai! Jesus sofreu horrível sede; pois em conseqüência das feridas, causadas pela desumana flagelação, estava com febre e tremia; a pele e os músculos dos lados estavam dilacerados o deixavam entrever as costelas em vários lugares; a língua contraíra-se-Lhe espasmodicamente; somente o sangue sagrado que lhe corria da fronte, compadecia-se da boca ardente, que se abria ansiosa. Mas aqueles homens horríveis tomaram-Lhe a boca divina por alvo dos nojentos escarros. Jesus foi assim maltratado por cerca de meia hora e a tropa, cujas fileiras cercavam o pretório, aplaudia com gritos e gargalhadas.

Ecce Homo

Reconduziram então Jesus ao palácio de Pilatos, a coroa de espinhos sobre a cabeça, o caniço nas mãos amarradas, coberto do manto vermelho. Jesus estava desfigurado, pelos sangue que Lhe enchia os olhos e Lhe escorria na boca e sobre a barba. O corpo, coberto de pisaduras e feridas, parecia-se-Lhe com um pano ensopado de sangue. Andava curvado e cambaleando; o manto era tão curto, que Jesus precisava curvar-se, para cobrir a nudez, porque Lhe tinham arrancado toda a roupa, no ato da coroação de espinhos.

Quando o pobre Jesus chegou ao primeiro degrau da escada, diante de Pilatos, até esse homem cruel estremeceu de horror e compaixão. Apoiou-se a um dos oficiais e como o povo e os sacerdotes ainda gritassem e insultassem, exclamou: “Se o demônio dos judeus é tão cruel, então não deve ser bom morar com ele no inferno”. Quando Jesus foi puxado penosamente, escada acima e conduzido ao fundo, Pilatos saiu para a sacada; foi dado um toque de trombeta, para chamar a atenção do povo, a que Pilatos queria falar. Disse, pois, aos príncipes dos sacerdotes e a todos os presentes: “Escutai, vou mandá-Lo conduzir mais uma vez para diante de vós, para que conheçais que não Lhe achei culpa alguma”.

Jesus foi então conduzido pelos soldados à sacada, ao lado de Pilatos, de modo que todo o povo reunido no fórum podia vê-Lo. Era um aspecto terrível, pungente, que primeiro causou no povo horror e penoso silêncio. O Filho de Deus ensangüentado dirigiu os olhos cheios de sangue, sob a coroa de espinhos, para o povo e Pilatos, que, ao lado, indicando-O com a mão, gritou aos judeus: “Eis aqui o Homem!”

Enquanto Jesus, com o corpo dilacerado, coberto do manto vermelho derrisório, abaixando a cabeça traspassada de espinhos e inundada de sangue, segurando nas mãos atadas o cetro de caniço, curvado para cobrir a nudez com as mãos, aniquilado pela dor e tristeza, mas ainda respirando infinito amor e mansidão, estava diante do palácio de Pilatos, como um aspecto sangrento, exposto aos gritos furiosos dos sacerdotes e do povo, passaram pelo fórum grupos de forasteiros, homens e mulheres, com as vestes arregaçadas, em direção à piscina das Ovelhas, para ajudar a lavar os cordeiros da Páscoa, cujos balidos tristes se misturavam com os clamores sanguinários da multidão, como para dar testemunho em favor da Verdade, que se calava. Somente o verdadeiro cordeiro pascal de Deus, o revelado, mas não conhecido mistério desse santo dia, cumpriu a profecia e curvou-se em silêncio sobre o matadouro.

            Os sumos sacerdotes e os membros do tribunal ficaram cheios de raiva pelo aspecto de Jesus, espelho horrível de sua consciência e gritaram: “Morra! Crucificai-O!” Pilatos, porém, exclamou: “Ainda não vos basta? Ele foi tão maltratado, que não terá mais desejo de ser rei”. Eles, porém, se tornaram ainda mais furiosos, gritando como dementes e todo o povo repetia: “Deve morrer. Crucificai-O!” Então mandou Pilatos dar outro toque de trombeta e disse: “Pois tomai-O e crucificai-O vós, porque não Lhe acho culpa”. Responderam-lhe alguns dos príncipes dos sacerdotes: “Temos uma lei e segundo essa lei Ele deve morrer, porque declarou ser o Filho de Deus!” Pilatos replicou: “Pois se tendes tais leis, segundo as quais este homem deve morrer, eu não queria ser judeu”.

Mas o dito dos judeus: “Ele se declarou Filho de Deus” inquietou Pilatos e suscitou-lhe de novo o pavor supersticioso; mandou, pois, conduzir Jesus a um lugar separado, onde Lhe perguntou: “Donde és?” Jesus, porém, não lhe respondeu. Disse-lhe então Pilatos: “Não me respondes? Por ventura não sabes que tenho o poder de crucificar-Te ou de soltar-Te?” E Jesus respondeu: “Não terias poder sobre mim, se não te fosse dado do Céu; por isso comete pecado mais grave aquele que me entregou em tuas mãos”.

         Cláudia Prócula, que estava muito angustiada pela hesitação do marido, mandou novamente um mensageiro a Pilatos mostrar-lhe o penhor e lembrar-lhe a promessa; ele, porém, lhe mandou uma resposta muito confusa e supersticiosa, da qual me lembro apenas que se referia aos deuses.

Quando os príncipes dos sacerdotes e os fariseus tiveram conhecimento da intervenção da mulher de Pilatos em favor de Jesus, mandaram espalhar entre o povo: “Os partidários de Jesus subornaram a mulher de Pilatos; se Ele ficar livre, unir-se-à aos romanos e nós todos pereceremos”.

Pilatos, na indecisão, estava como embriagado; a razão vacilava-lhe de um lado para outro. Disse uma vez aos inimigos de Jesus que não Lhe achava culpa. Mas vendo que esses, com mais vigor ainda, exigiram a morte de Jesus e inquieto pelos seus próprios pensamentos confusos, como pelos sonhos da mulher e as palavras significativas de Jesus, queria ouvir mais uma resposta do Senhor, que o pudesse tirar dessa situação penosa.

Voltou portanto à sala do tribunal, onde estava Jesus e ficou a sós com Ele. Com um olhar perscrutador e quase medroso, fitou o Salvador desfigurado e ensangüentado, para quem não podia olhar sem horror e pensou comigo: “Será possível que seja um Deus?” e de repente se Lhe dirigiu com energia, conjurando-O a dizer-lhe se era um deus e não um homem, se era rei, até onde se Lhe estendia o reino, de que espécie era a sua divindade. Se lho dissesse, dar-Lhe-ia a liberdade.

– O que Jesus respondeu, posso dizê-lo só pelo sentido, não com as mesmas palavras. O Senhor falou-lhe com terrível severidade. Fez-lhe ver em que sentido era rei e qual o seu reino; mostrou-lhe o que era a verdade, pois disse-lhe a verdade. Nosso Senhor revelou-lhe, com toda a franqueza, os abomináveis crimes que Pilatos ocultava na consciência; predisse-lhe o futuro, a miséria no exílio, o fim horroroso e que Ele um dia viria julgá-lo com toda a justiça.

Pilatos, meio assustado, meio irritado pelas palavras de Jesus, saiu para a sacada e exclamou mais uma vez que queria soltar Jesus. Então gritaram: “Se o soltares, não és amigo de César; pois quem se declara rei, é inimigo de César”. Outros gritaram que o acusariam perante o imperador por perturbar-lhes a festa; que devia terminar a causa, porque eram obrigados, sob graves penas, a estar no Templo às dez horas.

– O grito: “Morra! Crucificai-O!” levantou-se novamente de todos os lados; subiram até sobre os tetos planos das casas em redor do fórum e gritavam dali.

Então viu Pilatos que contra essa fúria não conseguiria nada; os gritos e o tumulto tinham algo de terrível e toda a multidão diante do palácio estava em tal estado de agitação, que era para recear uma rebelião. Pilatos mandou trazer água; o criado derramou-lhe água da bacia sobre as mãos, à vista de todo o povo e Pilatos gritou do pretório à multidão: “Sou inocente do sangue deste justo; vós tendes que responder pela sua morte”. Então se levantou um grito horrível, unânime, do povo reunido, no meio do qual havia gente de todos os lugares da Palestina: “Que o seu sangue caia sobre nós e nossos, filhos!”

Reflexão sobre estas visões

            Todas as vezes que, nas meditações da dolorosa Paixão de Jesus Cristo, ouço esse grito espantoso dos judeus: “Que o seu sangue caia sobre nós e nossos filhos”, o efeito dessa solene maldição me é revelado e tornado sensível, em quadros maravilhosos e terríveis. Vejo acima do povo, que grita, um céu escuro, coberto de nuvens cor de sangue, das quais saem flagelos e espadas de fogo. Vejo como se os raios dessa maldição atravessassem todos até os ossos e neles também os filhos. Vejo o povo como envolvido em trevas e o grito sair-lhes das bocas como um fogo tenebroso e maligno, unir-se por cima das cabeças e cair de novo sobre eles, entrando mais profundo em alguns, pairando sobre outros. Esses últimos eram aqueles que depois da morte de Jesus se converteram. O número destes não era, porém, pequeno; pois vejo Jesus e Maria, durante todos esses terríveis sofrimentos rezarem sempre pela salvação dos carrascos e todos esses horríveis tormentos não lhes causaram nenhum ressentimento.

Durante toda a Paixão, no meio das mais cruéis torturas dos insultos mais insolentes e ignominiosos, no meio da fúria sanguinária dos inimigos e dos servos destes, à vista da ingratidão e do abandono de muitos fiéis, que Lhe causaram o mais amargo sofrimento físico e moral, vejo Jesus sempre rezando, amando os inimigos, orando pela sua conversão, até o último suspiro; mas vejo que por essa paciência e esse amor ainda mais se inflama a fúria e raiva dos cruéis inimigos; enfurecem-se porque toda a sua brutalidade e crueldade não conseguem arrancar-Lhe da boca uma palavra de protesto ou de queixa, que possa desculpar-lhes a maldade. Hoje, que na festa da Páscoa matam o cordeiro pascal, não sabem que matam o Cordeiro de Deus.

Quando, durante tais visões, dirijo os meus pensamentos para o coração do povo e dos juízes e para as santas almas de Jesus e Maria, tudo que neles se passa me é mostrado em figuras, que as pessoas naquele tempo não viram mas sentiram o que representam. Vejo então inúmeras figuras diabólicas, cada uma diferente, conforme o vício que representa, em terrível ação entre a multidão; vejo-as correr, instigar a raiva, causar confusão dos espíritos, entrar na boca das pessoas; vejo as sair da multidão, reunir-se em grande número e atiçar a raiva do povo contra Jesus, mas à vista do amor e da paciência do Mestre tremem e desaparecem do novo entre o povo.

Toda essa atividade tem algo de desesperado, confuso, contraditório; é um movimento confuso e insensato. Acima e em redor de Jesus e Maria e do pequeno número de santos vejo também se moverem muitos Anjos, cujas figuras e vestimentas variam, conforme as respectivas funções e ação; representam consolação, oração, unção, conforto por comida e bebida e outras obras de misericórdia.

De modo semelhante vejo freqüentemente vozes consoladoras ou ameaçadoras saírem, como palavras de diferentes cores e luzes, da boca de tais aparições; e se são mensagens, vejo-lhas nas mãos, em forma de tiras escritas. Outras vezes, quando preciso ser instruída a esse respeito, vejo os movimentos d’alma e as paixões dos corações, o sofrimento e o amor, enfim, tudo que é sentimento; vejo-os passar através do peito e de todo o corpo dos homens, em movimentos de diferentes cores, em variações de luz e sombra, de diversas formas, direções e mudanças de forma e cor, de lentidão e rapidez; assim compreendo tudo, mas é impossível exprimi-lo em palavras; pois é um número infinito de coisas e ao mesmo tempo me sinto tão abatida pela dor e tristeza por meus pecados e os de todo o mundo e tão dilacerada pela dolorosa Paixão de Jesus, que até não compreendo como ainda possa juntar o pouco que estou contando.

Muitas coisas, especialmente aparições e ações de demônios e Anjos, contadas por outras pessoas, que tiveram visões da Paixão de Nosso Senhor, são fragmentos de tais intuições de movimentos interiores, invisíveis no momento em que se realizaram outrora, as quais variam, segundo o estado d’alma das pessoas videntes e são entremeadas  nas narrações. Por isso há tantas contradições, porque esquecem algumas coisas, saltam outras e só uma parte é que contam.

Tudo que há de mau no mundo, contribuiu para atormentar Jesus. Tudo que é amor, nEle sofreu. Como Cordeiro de Deus, tomou sobre si os pecados do mundo: – que infinidade de coisas, tanto abomináveis como também santas, se podem ver e contar. Se, portanto, as visões e contemplações de muitas pessoas piedosas não concordam em tudo, é porque não tiveram o mesmo grau de graça para ver, contar e fazer-se compreender.

Fonte: http://www.derradeirasgracas.com/3.%20Vários%20Assuntos/O%20relógio%20da%20Paixão/JESUS%20É%20COROADO%20DE%20ESPINHOS.%2009%2000.htm


AS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA DE LOURDES: 16ª APARIÇÃO.

março 27, 2010

16ª APARIÇÃO: QUINTA-FEIRA, 25 DE MARÇO

A COROAÇÃO DAS APARIÇÕES

Durante 20 dias, Bernadette não retornou à gruta. Nesse período as curas iam se multiplicando. Ao mesmo tempo iam se arrefecendo as resistências do pároco.

Santa Bernadette voltou a sentir o chamado de Nossa Senhora nas primeiras horas da festa da Anunciação, 25 de março.

É a data que o eminente doutor marial São Luis Maria Grignion de Montfort considera a mais importante para os devotos e escravos da Santíssima Virgem.

Então ela foi a Massabielle.

Esta foi, sem dúvida, a aparição culminante da série de Lourdes.

Como sempre, Santa Bernadette puxou o terço. Pouco depois entrou em êxtase. Ela própria nos conta o que se deu entre ela e Nossa Senhora.

“Depois dos quinze dias, eu lhe perguntei de novo seu nome, três vezes seguidas. Ela sorria sempre. Por fim ousei uma quarta vez, e foi então que ela, com os dois braços ao longo do corpo [como na Medalha Milagrosa], levantou os olhos ao Céu e depois me disse, juntando as mãos na altura do peito, que ela era a Imaculada Conceição”.

“Então eu voltei de novo à casa do senhor pároco, para lhe contar que ela me tinha dito que era a Imaculada Conceição. Ele me perguntou se eu estava bem segura. Respondi que sim, e que para não esquecer essa palavra eu a tinha repetido durante todo o caminho”.

Santa Bernadette não sabia o significado de “Imaculada Conceição”, cujo dogma o Bem-Aventurado Papa Pio IX proclamara poucos anos antes, deixando prostrados os partidários da Revolução e empolgando os devotos de Nossa Senhora no mundo inteiro!

O pároco custou a conter as lágrimas.

― “Ela quer mesmo a capela”, murmurou Santa Bernadette.

A partir desse momento, o sacerdote mudou de atitude.

Fonte: http://lourdes-150-aparicoes.blogspot.com/2009/01/16-apario-quinta-feira-25-de-maro.html


A vontade de Deus – Pe. Fábio de Melo – Direção Espiritual

março 26, 2010

O RELÓGIO DA PAIXÃO: 08:00 ÀS 09:00 hs. JESUS É FLAGELADO.

março 26, 2010

O RELÓGIO DA PAIXÃO
DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

  08:00 ÀS 09:00 hs. JESUS É FLAGELADO.

Sobre mim tombaram vossas iras, vossos temores me aniquilaram. (Sal 87, 17)

JESUS É CONDUZIDO PARA O PRETÓRIO

“E o rodearam com todo o pelotão” (Mt 27, 27)

Os soldados conduziram-no ao interior do pátio, isto é, ao pretório, onde convocaram toda a coorte. (Mc 15, 16)

JESUS É FLAGELADO

Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas. (Is 53, 4-5)

“Pilatos então mandou então flagelar JESUS” (Jo 19,1)

Aos que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escarros. (Is, 50, 6)

“Mandou açoitar JESUS” (Mt 27, 26)

Pai Nosso…, Ave Maria…, Glória ao Pai…

Pela sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.

Meu Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.

            Segundo as Visões de Anna Catharina Emmerich: 

Jesus é posposto a Barrabás.

            Ora, era nesse tempo que o povo vinha, antes da festa da Páscoa, pedir, segundo um antigo costume, a liberdade de um preso. Os fariseus tinham enviado, justamente por isso, alguns agentes ao bairro de Acra, a oeste de Templo, para dar dinheiro ao povo, instigando-o a que não pedisse a libertação, mas a crucificação de Jesus. Pilatos, porém, esperava que o povo pedisse a liberdade de Jesus e resolveu dar-lhes a escolher entre Jesus e um terrível facínora, que já fora condenado à morte, para que quase não tivessem que escolher. Esse celerado chamava-se Barrabás e era amaldiçoado por todo o povo; tinha cometido assassinatos durante uma agitação; vi que também tinha feito muitos outros crimes.

         Houve um movimento entre o povo no fórum; um grupo avançou, com os oradores à frente; esses levantaram a voz e bradaram a Pilatos, que estava no terraço: “Pilatos, fazei-nos o que sempre fizestes, por ocasião da festa! “Pilatos, que só então estava esperando por isso, respondeu-lhes: “Tendes o costume de receber de festas a liberdade de um preso. A quem quereis que solte, Barrabás ou Jesus, o rei dos judeus, que dizem ser o Ungido do Senhor?”

         Pilatos, todo indeciso, chamava-O “rei dos judeus”, já como romano orgulhoso, que os desprezava, por terem um rei tão miserável, que tivessem de escolher entre Ele e um assassino; já com uma certa convicção de que Jesus pudesse ser de fato esse rei maravilhoso dos judeus, o Messias prometido; mas também esse pressentimento da verdade era em parte fingimento e mencionou esse título do Senhor porque bem sentia que a inveja era o motivo principal do ódio dos príncipes dos sacerdotes contra Jesus, a quem considerava inocente.

         Após a pergunta de Pilatos, houve uma curta hesitação e deliberação entre o povo e só poucas vozes gritaram precipitadamente: “Barrabás!” Pilatos, porém, foi chamado por um criado da mulher; retirou-se um instante do terraço e o criado mostrou-lhe o penhor que ele dera da manhã à esposa e disse-lhe: “Cláudia Prócula manda lembrar-vos vossa promessa”. Os fariseus, no entanto, e os príncipes dos sacerdotes estavam em grande agitação; aproximaram-se do povo, ameaçando e instigando-o; mas não precisavam de tanto esforço.

         Maria, Madalena, João e as outras piedosas mulheres estavam no canto de uma arcada, tremendo e chorando. Embora a Virgem Santíssima soubesse que não havia salvação para os homens senão pela morte de Jesus, entretanto, como Mãe, estava cheia de angústia e desejo de salvar a vida do Filho santíssimo; e assim como Jesus, embora escolhesse de livre vontade tornar-se homem e morrer na cruz, todavia sofria, como qualquer homem, todas as dores e os martírios de um inocente horrivelmente maltratado e conduzido à morte, assim também Maria padecia todos os tormentos e angústias de uma mãe vendo o filho maltratado por um povo ingrato. Ela e as companheiras tremiam, entregues, ora à angustia, ora à esperança.

João afastava-se de vez em quando, a pouca distância, para ver se podia colher uma boa noticia. Maria implorava a Deus para que não se cometesse esse imenso crime; rezava como Jesus no monte das Oliveiras: “Se é possível, afaste este cálice”. Assim esperava ainda a mãe no seu amor; pois enquanto as instigações e ameaças dos fariseus ao povo passaram de boca em boca, chegara também a ela o boato de que Pilatos queria soltar Jesus. Viam-se, não longe, grupos de gente de Cafarnaum, entre os quais muitos que Jesus curara e ensinara; fizeram como se não O conhecessem e olhavam furtivamente para João e as infelizes mulheres, envoltas nos véus; mas Maria pensava, como todos, que esses, pelo menos, rejeitariam Barrabás, para salvar o Benfeitor e Salvador. Mas tal não se deu.

         Pilatos, lembrando-se, à vista do penhor, da súplica da esposa, devolveu-lho, como sinal de que cumpria a promessa. Voltou ao terraço e sentou-se ao lado da mezinha; os sumos sacerdotes também tornaram a ocupar os respectivos assentos e Pilatos exclamou de novo: “Qual dos dois quereis que eu solte?” – Então se levantou um grito geral por todo o fórum e de todos os lados: “Não queremos Este; entregai-nos Barrabás!” Pilatos gritou mais uma vez: “Que farei então de Jesus, que é chamado o Cristo, o rei dos judeus?” – “Crucificai-O, Crucificai-O!” Pilatos perguntou então pela terceira vez: “Mas que mal tem feito? Eu pelo menos não Lhe acho crime de morte. Mas vou mandá-Lo açoitar e depois soltar”. Mas o grito “Crucificai-O, Crucificai-O!” rugia pelo fórum, como uma tempestade infernal e os sumos sacerdotes e fariseus agitavam-se e gritavam como loucos de raiva. Então Pilatos lhes entregou Barrabás, o malfeitor e condenou Jesus à flagelação.

3. A flagelação de Jesus

         Pilatos, juiz covarde e indeciso, pronunciara várias vezes a palavra: “Não lhe acho crime algum; por isso vou mandá-Lo açoitar e depois soltar”. A gritaria dos judeus, porém, continuava; “Crucificai-O, Crucificai-O!” Contudo queria Pilatos tentar ainda fazer sua vontade e deu ordem de açoitar Jesus à maneira dos romanos. Então entraram os soldados e, batendo e empurrando a Jesus brutalmente, com os curtos bastões, conduziram nosso pobre Salvador, já tão maltratado e ultrajado, através da multidão tumultuosa e furiosa, para o fórum, até a coluna de flagelação, que ficava em frente de uma das arcadas do mercado, ao norte do palácio de Pilatos e não longe do posto da guarda.

         Os carrascos, jogando os açoites, varas e cordas no chão, ao pé da coluna, vieram ao encontro de Jesus. Eram seis homens de cor parda, mais baixos do que Jesus, de cabelo crespo e eriçado, barba muito rala e curta; vestiam apenas um pano ao redor da cintura, sandálias rotas e uma peça de couro ou outra fazenda ordinária, que lhes cobria peito e costas como um escapulário, aberto dos lados; tinham os braços nus. Eram criminosos comuns, das regiões do Egito, que trabalhavam como escravos ou degredados na construção de canais e edifícios públicos; escolhiam-se os mais ignóbeis e perversos, para tais serviços de carrascos no pretório.

         Amarrados à mesma coluna, alguns pobres condenados tinham sido açoitados até à morte, por esses homens horríveis, cujo aspecto tinha algo de bruto e diabólico e pareciam meio embriagados. Bateram em Nosso Senhor com os punhos e com cordas, apesar de não lhes opor resistência alguma, arrastaram-nO com brutalidade furiosa, até à coluna da flagelação. É uma coluna isolada, que não serve para sustentar o edifício. É de tamanho tal, que um homem alto, com o braço estendido, lhe pode tocar a extremidade superior, arredondada e munida de uma argola de ferro; na parte de traz, no meio da altura, há também argolas ou ganchos. É impossível descrever a brutalidade bárbara com que esses cães danados maltrataram a Jesus, nesse curto caminho; tiraram-Lhe o manto derrisório de Herodes e quase jogaram nosso Salvador por terra.

         Jesus trepidava e tremia diante da coluna. Ele mesmo se apressou a despir a roupa, com as mãos inchadas e ensangüentadas pelas cordas, enquanto os carrascos O empurravam e puxavam. Orava de um modo comovente e volveu a cabeça por um momento para a Mãe SS. que, dilacerada de dor, estava com as mulheres piedosas num canto das arcadas do mercado, não longe do lugar de flagelação e disse, voltando-se para a coluna, porque O obrigaram a despir-se também do pano que lhe cingia os rins: “Desvia os teus olhos de mim”. Não sei se pronunciou essas palavras ou as disse só interiormente, mas percebi que Maria as entendeu; pois a vi nesse momento desviar o rosto e cair sem sentidos nos braços das santas mulheres veladas, que a rodeavam.

         Então abraçou Jesus a coluna e os algozes ataram-Lhe as mãos levantadas à argola de cima, dando-Lhe arrancos brutais e praguejando horrivelmente todo o tempo; puxaram-Lhe assim todo o corpo para cima, de modo que os pés, amarrados em baixo à coluna, quase não tocavam no chão. O Santo dos Santos estava cruelmente estendido sobre a coluna dos malfeitores, em ignominiosa nudez e indizível angústia e dois dos homens furiosos começaram, com crueldade sanguinária, a flagelar-Lhe todo o santo corpo, da cabeça aos pés. Os primeiros açoites ou varas que usaram, pareciam ser de maneira branca e dura; talvez fossem também feixes de tendões secos de boi ou tiras duras de couro branco.

         Nosso Senhor e Salvador, o Filho de Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, contraia-se e torcia-se, como um verme, sob os açoites dos criminosos; ouviam-se-Lhe os gemidos e lamentos, doces e claros, como uma prece afetuosa no meio de dores dilacerantes, entre os sibilar e estalar dos açoites dos carrascos. De vez em quando ressoava a gritaria do povo e dos fariseus, como uma nuvem escura de tempestade, abafando essas queixas dolorosas e santas, cheias de bênçãos. As turbas gritavam: “Deve morrer! Crucificai-O!”, pois Pilatos estava ainda a discutir com o povo.

Quando queria fazer-se ouvir, no meio do tumulto da multidão, fazia soar primeiro um toque de trombeta, para impor silêncio. Nesses momentos se ouviam novamente os açoites, os gemidos de Jesus, o praguejar dos carrascos e os balidos dos cordeiros pascais, que eram lavados na piscina das Ovelhas, ao lado da porta das Ovelhas, a leste do fórum. Depois de lavados, eram levados, com a boca amarrada, até o caminho do Templo, para não se sujarem mais, depois eram conduzidos para o lado de fora, a oeste, onde ainda eram submetidos a uma ablução cerimonial. Esses balidos desamparados dos cordeiros tinham algo de indescritivelmente comovente; eram as únicas vozes que se uniam aos gemidos do Salvador.

         A multidão dos judeus mantinha-se afastada do lugar da flagelação, numa distância, talvez, da largura de uma rua. Soldados romanos estavam postos em diferentes lugares, especialmente pelo lado do posto de guarda; perto da coluna de flagelação havia grupos de populacho, que iam e vinham silenciosos ou zombando; vi alguns que se sentiram comovidos; era como se os tocasse um raio de luz saindo de Jesus.

         Vi também meninos indignos que, ao lado do pretório, preparavam novas varas e outros que iam buscar ramos de espinheiro. Alguns soldados dos Príncipes dos sacerdotes tinham travado relações com os carrascos e deram-lhes dinheiro; trouxeram-lhes também um grande cântaro, cheio de uma bebida vermelha, grossa, da qual beberam até ficar embriagados e enraivecidos. Ao cabo de um quarto da hora deixaram os dois carrascos de açoitar Jesus; formam juntar-se a dois outros e beberam com eles. O corpo de Jesus estava todo coberto de contusões vermelhas, pardas e roxas e o sangue sagrado corria-Lhe por terra; agitava-se em movimentos convulsivos. De todos os lados se ouviam insultos e motejos.

         Durante a noite tinha feito muito frio. Desde a madrugada até essa hora, não clareara o céu e, com grande espanto do povo, caíram algumas curtas chuvas de pedra. Pelo meio dia clareou e apareceu o sol.

         O segundo par de carrascos caiu então com novo furor sobre Jesus; tinham outra espécie de açoites; eram como varas de espinheiro, com nós e esporões. Os violentos golpes rasgaram todas as pisaduras do santo corpo de Jesus; o sangue regou o chão, em redor da coluna e salpicou os braços dos carrascos. Jesus gemia, rezava, torcia-se de dor.

         Passaram então pelo fórum muitos estrangeiros, montados em camelos; olharam assustados e entristecidos, quando o povo lhes disse o que se estava passando. Eram viajantes, dos quais uns tinham recebido o batismo e outros o sermão da montanha. O tumulto e os gritos continuavam no entanto, diante da casa de Pilatos.

         Os dois seguintes carrascos bateram em Jesus com flagelos: eram curtas correntes ou correias, fixas num cabo, cuja extremidades estavam munidas de ganchos de ferro, que arrancavam, a cada golpe, pedaços de pele e carne das costas. Oh! Quem pode descrever o aspecto horrível e doloroso deste suplicio?

         Mas a crueldade dos carrascos ainda não estava satisfeita; desligaram Jesus e amarraram-nO de novo, mas com as costas viradas para a coluna. Como, porém, estivesse tão enfraquecido, que não podia manter-se em pé, passaram-Lhe cordas finas sobre o peito e sob os braços e debaixo dos joelho, amarrando-O assim toda à coluna; também Lhe ataram as mãos atrás da coluna, a meia altura. Todo o corpo sagrado contraia-se-Lhe dolorosamente, as chagas e o sangue cobriam-Lhe a nudez. Como cães raivosos, caíram-Lhe os carrascos em cima, com os açoites; um tinha uma vara mais delgada na mão esquerda, com que Lhe batia no rosto. O corpo de Nosso Senhor formava uma só chaga, não havia mais lugar são. Ele olhava para os carrascos, com os olhos cheios de sangue, que suplicavam misericórdia, mas redobravam os golpes furiosos e Jesus gemia, cada vez mais fracamente: “Ai”

         A horrível flagelação durara cerca de três quartos de hora, quando um estrangeiro, homem do povo, parente do cego Ctesifon, curado por Jesus, se aproximou precipitadamente da coluna, pelo lado de traz e, com uma faca em forma de foice na mão, gritou indignado: “Parai! Não flageleis este homem inocente até morrer!” Os carrascos, meio embriagados, pararam espantados e o homem cortou rapidamente, como de um único golpe, as cordas de Jesus, que todos estavam seguras num prego de ferro, atrás da coluna; depois o estrangeiro fugiu e perdeu-se na multidão. Jesus, porém, caiu desfalecido, ao pé da coluna, sobre a terra empapada de sangue. Os carrascos deixaram-nO lá e foram beber, depois de chamar os auxiliares do carrasco, que estavam no posto de guarda, ocupados em trançar a coroa de espinhos.

         Jesus torcia-se ainda de dor, ao pé da coluna, as chagas a sangrar; nesse momento vi passar perto algumas raparigas libertinas, com as vestes imprudentemente arregaçadas; estavam de mãos dadas e pararam diante de Jesus, olhando-O com repugnância melindrosa; com isso sentiu Jesus ainda mais as feridas e levantou para elas o rosto ensangüentado, com um olhar suplicante; então se afastaram, continuando o caminho e os carrascos e soldados dirigiram-lhes, entre gargalhadas, palavras indecentes.

         Vi varias vezes, durante a flagelação, aparecerem Anjos tristes em redor de Jesus; ouvi a oração que o Senhor dirigia ao Pai eterno, no meio dos tormentos e insultos, oferecendo-se para expiação dos pecados dos homens. Mas nesse momento, quando jazia, banhado em sangue, ao pé da coluna, vi um anjo, que lhe restituía as forças; parecia dar-Lhe um alimento luminoso.

         Então se aproximaram novamente os carrascos e dando-Lhe pontapés, mandaram-nO levantar-se, dizendo que ainda não tinham acabado com o rei; querendo ainda bater-Lhe, arrastou-se Jesus pelo chão, para alcançar a faixa de pano e cobrir a nudez; mas os perversos celerados empurravam-na com os pés para lá e para cá, rindo-se de ver Jesus em sangrenta nudez arrastar-se penosamente, como um verme esmagado, para alcançar o pano e cobrir o corpo dilacerado.

Depois O impeliram, a pontapés e pauladas, a levantar-se sobre as pernas vacilantes; não Lhe deram tempo de vestir a túnica, mas lançaram-lha sobre os ombros e Jesus enxugou nela o sangue do rosto, enquanto O conduziram apressadamente ao corpo da guarda, dando uma volta. Podiam tê-Lo levado por um caminho mais curto, porque as arcadas e edifícios em redor do fórum eram abertos, de modo que se podia enxergar o corredor sob o qual jaziam presos os dois ladrões e Barrabás; mas passaram com Jesus diante dos sumos sacerdotes, que gritavam: “Levai-O à morte! Levai-o à morte!” e viraram a cabeça com nojo. Conduziram-nO para o pátio interior do corpo da guarda. Quando Jesus entrou, não havia lá soldados, mas escravos, soldados e marotos, a escória do povo.

         Vendo que o povo estava tão agitado, Pilatos mandara vir reforço da cidadela Antônia. Essas forças cercavam em boa ordem o corpo da guarda; podiam falar, rir e insultar a Jesus, mas não sair das fileiras. Pilatos queria com eles manter o povo em respeito. Podia bem haver lá mil homens.

4. Maria Santíssima durante a flagelação.

             Vi a SS. Virgem, durante a flagelação do Redentor, em continuo êxtase; via e sofria na alma e com indizível amor e tormento, tudo quanto sofria o Divino Filho. Muitas vezes lhe saíram fracos gemidos da boca; os olhos estavam inflamados de tanto chorar. Jazia velada nos braços da irmã mais velha, Maria Helí, que já era muito idosa e se parecia muito com a mãe, Sant’ Ana. Maria, filha de Cléofas e de Maria Helí, estava também presente e segurava sempre o braço se sua mãe. As santas amigas de Maria e Jesus, todas veladas e envolvidas em mantos, rodeavam a SS. Virgem, tremendo de medo e dor, como se esperassem sua própria sentença de morte. Maria vestia uma longa veste azul e sobre essa, um comprido manto branco de lã e um véu branco-amarelo. Madalena estava desnorteada e desolada de dor e lamentação; tinha o cabelo em desalinho, sob o véu.

         Quando Jesus, depois da flagelação, caíra ao pé da coluna, mandara Cláudia Prócula, a mulher de Pilatos, um fardo de grandes panos à Mãe de Deus. Não sei mais se julgava que Jesus ficaria livre e a Mãe do Senhor lhe devia tratar as feridas com esses panos ou se a pagã compadecida mandou os panos para o fim o qual SS. Virgem os empregou.

         Maria, voltando a si, viu passar o Divino Filho dilacerado, conduzido pelos soldados; Ele enxugou o sangue dos olhos com a túnica, para fitar a SS. Virgem, que Lhe estendeu as mãos, num transporte de dor e Lhe seguiu com a vista as pegadas sangrentas. Logo depois vi a SS. Virgem e Madalena, quando o povo se dirigia mais para o outro lado, aproximarem-se do lugar da flagelação. Cercadas e ocultas pelas outras santas mulheres e outra gente boa, que se aproximara, prostraram-se por terra, ao pé da coluna da flagelação e apanharam com os panos todo o sangue de Jesus, por toda a parte onde encontraram algum vestígio.

         Não vi nessa hora João, junto das santas mulheres, que eram cerca de vinte. O filho de Simeão, o de Obed e o de Verônica, como também Aram e Temeni, os sobrinhos de José de Arimatéia, estavam todos ocupados no Templo, cheios de tristeza e angústia.

         Foi pelas nove horas da manhã que acabou a flagelação.

         Vi hoje as faces da SS. Virgem pálidas e mortiças, o nariz delgado e comprido, os olhos quase cor de sangue, de tantas lágrimas que derramou; não é possível descrever a impressão que faz a figura de Maria, na sua simplicidade e graça natural. Já desde ontem e durante toda a noite, tem ela vagueado, cheia de angústia e amor, pelo vale de Josafá e pelas ruas de Jerusalém e através do povo e contudo não se lhe vê nenhuma desordem nas vestes; cada prega do vestido da SS. Virgem respira santidade; tudo nela é simples e digno, puro e inocente.

Os movimentos, ao olhar em redor de si, são nobres e as pregas do véu, quando vira um pouco a cabeça, são de uma singular beleza e simplicidade. Nos movimentos não se lhe nota agitação e mesmo na mais dilacerante dor, todo o porte se lhe conserva simples e calmo. Tem o manto umedecido pelo orvalho da noite e por inúmeras lágrimas, mas em tudo mais está limpo e bem arrumado. É inefavelmente bela e de uma beleza toda sobrenatural; pois toda sua beleza é também pureza, simplicidade, dignidade e santidade.

         Madalena, porém, tem um aspecto inteiramente diferente. É mais alta e mais gorda e chama mais a atenção pelas formas e os movimentos; mas toda a beleza lhe foi devastada pelas paixões, pelo arrependimento e excessiva dor; quase sem limite de sua dor. Tem as vestes molhadas e sujas de lama, em desarranjo e rasgadas; o longo cabelo cai-lhe solto e em desalinho, sob o véu molhado e amarrotado. Está toda desfigurada e agitada; não pensa senão em sua dor, e parece quase uma alienada. Há muita gente aqui de Magdala e arredores, que a viu dantes, na vida tão suntuosa e depois tão pecaminosa e em seguida tanto tempo retirada do mundo e agora a apontam com o dedo e a insultam, ao ver-lhe a estranha figura; há também gente baixa de Magdala que, ao passar por ela, lhe atira lama, mas Madalena não o nota, tão absorta está na sua dor.

Fonte:http://www.derradeirasgracas.com/3.%20Vários%20Assuntos/O%20relógio%20da%20Paixão/JESUS%20É%20FLAGELADO.08%2000.htm


MANSÃO OU CASEBRE?

março 26, 2010

MANSÃO OU CASEBRE?

“Na casa de meu Pai há muitas moradas… vou preparar-vos
lugar” (João 14:2).

Conta-se uma lenda de um homem rico que chegando ao portão
do Céu, encontrou-se com Pedro que o dirigiu até sua nova
casa. Caminhou por ruas de ouro ladeadas por magníficas
mansões. O homem deu uma parada, esperando que sua nova
moradia estivesse localizada ali, mas Pedro prosseguiu e foi
seguido pelo recém chegado. Finalmente, Pedro chegou a uma
área pouco habitada e, parando diante de uma pequena cabana,
falou ao homem: “Chegamos. Aqui é a sua eterna morada.”
Indignado com o que via, falou o homem: “Isso não é
possível. Na terra eu vivia em grande luxo e tinha tudo que
um homem pode desejar. Agora você quer que eu viva neste
casebre? Certamente deve estar havendo um engano.” Pedro,
que o ouvia em silêncio, acrescentou: “É preciso compreender
que todo o material que empregamos na construção de sua casa
foi enviado pelo senhor enquanto esteve na terra. Seria um
grande prazer para nós construir-lhe uma bela mansão,
espaçosa e bem decorada, mas não nos mandou o material
adequado.”

Quantas vezes dizemos que cremos em Deus, que temos Jesus no
coração, mas na realidade só temos um pensamento e um
propósito: os nossos próprios interesses. Não levamos em
conta que nossa vida aqui neste mundo é passageira e que
teremos uma eternidade para viver.

Investimos na construção de nosso patrimônio, na nossa
formação profissional, no nosso bem estar e tudo mais que é
normal e que precisa realmente ser alvo de nossos projetos,
mas esquecemos de uma coisa que é mais importante que tudo
isso: a nossa salvação e a vida eterna com Deus.

O Céu é um dádiva. O que acontece depois constitui-se em
nossa recompensa. É preciso que sejamos gratos Àquele que
nos deu tão maravilhoso presente e que vivamos de tal modo
que alegremos Seu coração e ajudemos a outros a receberem o
mesmo presente que nos tem trazido grande alegria e regozijo
que durará para sempre.

O que temos feito na terra pela causa do Céu?

Fonte: http://www.cot.org.br/refletir.php?action=ver&id=46

O RELÓGIO DA PAIXÃO: 07:00 ÀS 08:00 hs. HERODES DEVOLVE JESUS A PILATOS.

março 25, 2010

O RELÓGIO DA PAIXÃO
DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

   07:00 ÀS 08:00 hs. HERODES DEVOLVE JESUS A PILATOS.

JESUS DE NOVO DIANTE DE PILATOS

Erguem-se, juntos, os reis da terra, e os príncipes se unem para conspirar contra o Senhor e contra seu Cristo. (Sal 2, 2)

… Reenviou-o a Pilatos. Naquele mesmo dia, Pilatos e Herodes fizeram as pazes, pois antes eram inimigos um do outro. (Lc  23, 11-12)

PILATOS PELA SEGUNDA VEZ DECLARA JESUS INOCENTE

… O Deus de nossos pais glorificou seu servo Jesus, que vós entregastes e negastes perante Pilatos, quando este resolvera soltá-lo. (At 3,13)

“Não acho nELE crime algum” (Jo 18, 38)

Pilatos convocou então os príncipes dos sacerdotes, os magistrados e o povo, e disse-lhes: Apresentastes-me este homem como agitador do povo, mas, interrogando-o eu diante de vós, não o achei culpado de nenhum dos crimes de que o acusais. Nem tampouco Herodes, pois no-lo devolveu. Portanto, ele nada fez que mereça a morte. Por isso, soltá-lo-ei depois de o castigar. (Lc 23, 13-16)

BARRABÁS OU JESUS?

… Vós renegastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homicida. (At 3, 14)

“Qual quereis que eu vos solta: Barrabás ou JESUS?” (Mt 27, 17)

Disse-lhe Pilatos: …Mas é costume entre vós que pela Páscoa vos solte um preso. Quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus? Então todos gritaram novamente e disseram: Não! A este não! Mas a Barrabás! (Barrabás era um salteador.) (Jo 18, 38-40)

Pai Nosso…, Ave Maria…, Glória ao Pai…

Pela sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.

Meu Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.

            Segundo as Visões de Anna Catharina Emmerich: 

Origem de Via Sacra.

            Durante toda a acusação perante Pilatos, a Mãe de Jesus, Madalena e João ficaram no meio do povo, num canto das arcadas do fórum ouvindo com profunda dor a gritaria raivosa dos acusadores. Quando Jesus foi conduzido a Herodes, João voltou com a SS. Virgem e Madalena por todo o caminho da Paixão. Foram até à casa de Caifás e a de Anás, atravessando Ofel, até chegarem a Getsêmani, no monte das Oliveiras e em todos os lugares onde Ele caíra ou onde lhes tinham causado um sofrimento, paravam e em silêncio choravam e sofriam com Ele.

Muitas vezes a SS. Virgem se prostrava no chão, beijando a terra onde Jesus caíra, Madalena torcia as mãos e João, chorando, consolava-as, levantava-as e continuava com elas o caminho. Foi esse o começo da Via Sacra e da contemplação e veneração da Paixão de Jesus, antes mesmo que estivesse terminada.

Foi nessa ocasião que começou, na mais santa flor da humanidade, na Santíssima Virgem Mãe de Deus e do Filho do homem, a devoção da Igreja às dores do Redentor; já naquele momento, quando Jesus ainda trilhava o caminho doloroso da Paixão, a Mãe cheia de graça venerava e regava com lágrimas as pegadas de seu Filho e Deus. Oh! Que compaixão! Com que violência lhe entrou a espada no coração, ferindo-o sem cessar! Ela, cujo bem-aventurado seja O trouxera, que concebera, acariciara e nutrira o Verbo, que era desde o princípio com Deus e era mesmo Deus; ela, que em si Lhe tivera e sentira a vida, antes que os homens, seus irmãos, Lhe recebessem a bênção, a doutrina e a salvação, ela participava de todos os sofrimentos de Jesus, inclusive a sua sede da salvação dos homens, pela dolorosa Paixão e Morte.

Assim a Virgem puríssima e Imaculada inaugurou para a Igreja a Via Sacra, para juntar em todos esses lugares os infinitos merecimentos de Jesus Cristo, como se juntam pedras preciosas ou colhê-los como se colhem flores à beira do caminho e oferecê-los ao pai Celeste, por aqueles que crêem. Tudo que tinha havido e haverá de santo na humanidade, todos que têm almejado a salvação, todos que já uma vez celebraram compadecidos o amor e os sofrimentos do Senhor, fizeram esse caminho com Maria, choraram, rezaram e sacrificaram no coração da Mãe de Jesus, que também é terna Mãe de todos os seus irmãos, os fiéis da Igreja.

         Madalena estava como que alucinada pela dor. Tinha um imenso e santo amor a Jesus; mas quando queria verter a alma aos pés do Salvador, como Lhe vertera o óleo de nardo sobre a cabeça, abria-se um horrível abismo entre ela e o Bem-Amado. O arrependimento dos pecados, como a gratidão pelo perdão, lhe eram sem limites e quando o seu amor queria fazer subir a ação de graças aos pés do Divino Mestre, como uma nuvem de incenso, eis que O via maltratado e conduzido à morte, por causa dos pecados dela, que Ele tomara sobre si.

Então se lhe horrorizava a alma, diante de tão grande culpa, pela qual Jesus tinha de sofrer tão horrivelmente; precipitava-se-lhe no abismo do arrependimento, que não podia nem exaurir, nem encher; e de novo se elevava, cheia de amor e saudade, para seu Mestre e Senhor e via-O sofrendo indizíveis crueldades. Assim tinha a alma cruelmente dilacerada, vacilava entre o amor e o arrependimento, entre a sua gratidão e a dolorosa contemplação da ingratidão do povo para com o Redentor; todos esses sentimentos se lhe manifestavam no rosto, nas palavras e nos movimentos.

         João sofria em seu amor; conduzia a Mãe de seu Santo Mestre e Deus, que também o amava e sofria por ele; conduzia-a, pela primeira vez, nas pegadas da Via Sacra da Igreja e lia-lhe na alma o futuro.

Pilatos e a Esposa

            Enquanto Jesus era conduzido a Herodes e lá o cobriam de insultos e escárnio, vi Pilatos ir ao encontro da esposa, Cláudia Prócula. Encontraram-se numa pequena casa, construída sobre um terraço do jardim, atrás do palácio de Pilatos. Cláudia estava muito incomodada e comovida. Era mulher alta e esbelta, mas pálida; vestia um véu, que lhe pendia sobre as costas, contudo viam-se-lhe os cabelos, dispostos em redor da cabeça e alguns adornos; tinha também brincos, um colar e sobre o peito um broche, em forma de agrafe, que lhe prendia o longo vestido de pregas. Conversou muito, tempo com Pilatos, conjurando-o por tudo que lhe era santo a não fazer mal a Jesus, o Profeta, o mais Santo dos santos e contou-lhe parte das visões maravilhosas que vira, a respeito de Jesus, durante a noite.

         Enquanto ela falava, vi-lhe grande parte das visões que tivera; mas não me lembro mais exatamente da ordem em que se seguiram. Recordo-me todavia, que viu todos os momentos principais da vida de Jesus; viu a Anunciação de N. Senhora, o Nascimento de Jesus, a adoração dos pastores e dos Reis Magos, as profecias de Simeão e Ana, a fuga para o Egito, a matança dos inocentes, a tentação no deserto, etc. Viu-lhe quadros da vida pública, virtudes e milagres; viu-O sempre rodeado de luz e teve visões horríveis do ódio e da maldade de seus inimigos; viu-Lhe os inúmeros sofrimentos, o amor e a paciência sem limite, a santidade e as dores de sua santa Mãe.

Para mais fácil compreensão, eram esses quadros ilustrados com figuras simbólicas e pela diferença de luz e sombra. Essas visões lhe causaram indizível angústia e tristeza; pois todas essas coisas lhe eram novas, penetraram-lhe no coração pela verdade intuitiva; parte das visões mostraram-lhe acontecimentos que se deram na vizinhança de sua casa, como por exemplo a matança das  crianças inocentes e a profecia de Simeão no Templo. De minha própria experiência sei bem quanto um coração compassivo sofre em tais visões; pois compreende melhor os sentimentos de outrem quem já os sentiu em si mesmo.

         Ela tinha sofrido desse modo durante a noite e visto muitas coisas maravilhosas e compreendido muitas verdades, umas mais, outras menos claramente, quando foi acordada pelo barulho da multidão, que conduzia a Jesus. Quando mais tarde olhou para fora, viu o Senhor, objeto de todas as coisas maravilhosas que vira durante a noite, desfigurado e cruelmente maltratado pelos inimigos, que o conduziam através do fórum, ao palácio de Herodes. Esse espetáculo, após as visões da noite, encheu-lhe o coração de angústia e terror. Mandou imediatamente chamar Pilatos, a quem contou, com medo e pavor, muitas das coisas que vira, porque não tinha compreendido tudo ou não o sabia exprimir em palavras; mas pedia e suplicava e estreitava-se-lhe de um modo tocante.

         Pilatos ficou muito admirado e até sobressaltado pelo que a esposa lhe contou, comparava-o com tudo que ouvia cá e lá sobre Jesus, com a raiva dos judeus, com o silêncio do Mestre e as firmes e maravilhosas respostas que lhe dera às perguntas; ficou perturbado e inquieto; deixou-se, porém, em pouco vencer pelas insistências da mulher e disse-lhe: “Já declarei que não acho crime nesse homem; não O condenarei, já percebi toda a maldade dos judeus”. Ainda falou sobre as declarações que Jesus tinha feito contra si mesmo e até tranqüilizou a mulher, dando-lhe um penhor, como garantia da promessa. Não sei mais se foi uma jóia ou um anel ou sinete que lhe deu por penhor. Assim se separaram.

         Conheci Pilatos como homem confuso, ambicioso, indeciso, orgulhoso e vil ao mesmo tempo; sem verdadeiro temor de Deus, não recuava diante das ações mais vergonhosas, se delas esperava qualquer lucro e ao mesmo tempo era um vil covarde, que se entregava a toda espécie de ridículas superstições, procurando a proteção dos deuses, quando se achava em situação difícil. Vi-o também nessa ocasião muito perturbado; estava continuamente diante dos deuses, aos quais oferecia incenso, numa sala secreta da casa e dos quais pedia sinais.

Também esperava outros sinais supersticiosos, por exemplo, observava como comiam as galinhas; mas todas essas coisas pareciam tão horríveis, tenebrosas e infernais, que recuei tremendo de horror e não as posso mais contar exatamente. Tinha ele as idéias confusas e o demônio sugeria-lhe ora uma, ora outra coisa. Primeiro opinou que devia soltar Jesus, por ser inocente; depois pensou que os deuses se vingariam, se salvasse Jesus; pois havia estranhos sinais e declarações, que provavam ser o Nazareno um semideus, e sendo assim, podia fazer muito mal aos deuses.

“Talvez”, disse consigo, “seja uma espécie de Deus dos judeus, que deve reinar sobre tudo; alguns reis dos adoradores dos astros, vindos do oriente, já vieram uma vez a Jerusalém, procurar tal rei; talvez este pudesse elevar-Se acima dos deuses e do imperador e eu teria uma grande responsabilidade, se Ele não morresse. Talvez a sua morte seja o triunfo dos meus deuses”. Mas depois se recordou dos sonhos maravilhosos da mulher, que antes nunca vira Jesus e isso lançou um grande peso na balança oscilante de Pilatos, em favor da libertação do Mestre e decidiu-se de fato nesse sentido.

Queria ser justo; mas não o podia, porque tinha perguntado: “O que é a verdade?” e não esperava a resposta: “Jesus Nazareno, o rei dos judeus, é a verdade”. Havia tanta confusão nos pensamentos do Procurador romano, que eu não o podia compreender e ele mesmo também não sabia o que queria; senão certamente não teria consultado as galinhas.

         Juntava-se no entanto cada vez mais no mercado e na vizinhança da rua pela qual Jesus fora conduzido a Herodes. Havia, porém, uma certa ordem, pois o povo reunia-se em certos grupos, segundo as cidades ou regiões donde vieram à festa. Os fariseus mais encarniçados de todas as regiões onde Jesus tinha ensinado, estavam com os patrícios, esforçando-se por excitar contra Jesus o povo instável e perplexo. Os soldados romanos estavam reunidos em grande número no posto de guarda, diante do palácio de Pilatos, outros tinham ocupado todos os pontos importantes da cidade.

Jesus reconduzido a Pilatos

         Cada vez mais enfurecidos, tornaram os príncipes dos sacerdotes e os inimigos de Jesus a trazê-Lo de novo de Herodes a Pilatos. Estavam envergonhados de não lhe ter conseguido a condenação e ter de voltar novamente para aquele que já O tinha declarado inocente. Por isso tomaram na volta outro caminho, cerca de duas vezes mais longo, para mostrá-Lo naquela humilhação em outra parte da cidade, para poder maltratá-Lo tanto mais pelo caminho e dar tempo aos agentes de concitarem o povo a agir conforme as maquinações tramadas.

          O caminho pela qual conduziram Jesus era mais áspero e desigual; acompanharam-nO, estimulando os soldados sem cessar a maltratá-Lo. A veste derrisória, o longo saco, impedia o Senhor de andar; arrastava-se na lama, várias vezes caiu, embaraçando-se nele e era levantado cada vez com arrancos nas cordas, pauladas na cabeça e pontapés. Sofreu nesse caminho indizíveis insultos e crueldades, tanto daqueles que o conduziam, como também do povo; mas Ele rezava, pedindo a Deus que não O deixasse morrer, para poder terminar a sua Paixão e nossa Redenção.

         Eram oito horas e um quarto da manhã, quando o sinistro cortejo chegou, vindo do outro lado, (provavelmente de leste) ao palácio de Pilatos, atravessando o fórum. A multidão do povo era enorme; estavam reunidos em grupos, conforme as regiões e cidades de procedência e os fariseus corriam entre o povo, excitando-o. Pilatos, lembrando-se ainda da revolta dos galileus descontentes, na Páscoa do ano anterior, tinha concentrado cerca de mil homens, que ocuparam o pretório ou posto de guarda, as entradas do fórum e do palácio.

         A SS. Virgem, sua irmã mais velha, Maria Helí, a filha desta, Maria Cleofé, Madalena e algumas outras mulheres piedosas, cerca de vinte, assistiram aos acontecimentos que se seguiram; ficaram sob as arcadas, de onde podiam ouvir tudo e aproximavam-se furtivamente de vez em quando. João estava a princípio também presente.

         Jesus, coberto com a veste derrisória, foi conduzido através da multidão, entre os escárnios do populacho; pois a escória e os mais perversos de entre o povo foram colocados na frente dos fariseus, que lhes davam o exemplo, ultrajando Jesus. Um palaciano de Herodes já tinha chegado antes, com a mensagem para Pilatos, de que Herodes lhe ficava muito grato pela atenção, que, porém, no afamado sábio galileu encontrara apenas um bobo mudo; que O tinha tratado como tal e mandara reconduzí-Lo novamente a Pilatos. Este ficou satisfeito de saber que Herodes estava de acordo e não condenara Jesus; mandou levar-lhe de novo cumprimentos e assim se tornaram amigos, de inimigos que eram, desde o desabamento do aqueduto.

         Jesus foi novamente conduzido pela rua ao palácio de Pilatos; empurraram-nO, para subir a escada que conduzia ao terraço; mas pelos brutais arrancos dos soldados, pisou na longa veste e caiu com tal violência sobre os degraus de mármore, que os salpicou de sangue sagrado. Os inimigos do Mestre, que tinham de novo ocupado os assentos, ao lado do fórum e o populacho romperam na gargalhada por essa queda de Jesus e os soldados empurraram-nO a pontapés pelos últimos degraus.

         Pilatos estava recostado no seu assento, que se parecia com um pequeno leito de repouso; a pequena mesa estava ao lado; como dantes, estavam também agora com ele alguns oficiais e outros homens, com rolos de pergaminho. Ele se dirigiu ao terraço, do qual falava ao povo e disse aos acusadores de Jesus: “Vós me entregastes este homem como agitador do povo à revolta; interroguei-O diante de vós e não O achei réu do crime de que O acusais. Também Herodes não lhe achou crime algum; pois vos mandei Herodes e vejo que não foi condenado à morte. Portanto mandá-Lo-ei açoitar e depois soltar”.

Levantou-se, porém, entre os fariseus violenta murmuração e clamor e a agitação e distribuição de dinheiro entre o povo tomou mais intensidade. Pilatos tratou-os com muito desprezo e expressões satíricas; entre outras, disse essa: “Não vereis por acaso correr bastante sangue inocente ainda hoje, na hora dos sacrifícios?”

 Fonte: http://www.derradeirasgracas.com/3.%20Vários%20Assuntos/O%20relógio%20da%20Paixão/HERODES%20DEVOLVE%20JESUS%20A%20PILATOS.07%2000.htm


AS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA DE LOURDES: 15ª APARIÇÃO.

março 25, 2010

15ª APARIÇÃO: A ÚLTIMA DA “QUINZENA”

15ª aparição — quinta-feira, 4 março

A quinzena de aparições concluiu-se no dia 4 de março. Desta vez reuniram-se entre oito e vinte mil pessoas, segundo as versões. Havia avidez de um milagre.

Lourdes, vitral da basílica superior

O delegado de polícia revistou a gruta e as proximidades, à procura de alguma espécie de fogo de artifício que servisse para simular uma aparição, mas nada encontrou.

Santa Bernadette foi amparada por um grupo de guardas que continha a multidão. O êxtase durou quase uma hora, sem que acontecesse algo excepcional.

No fim, Santa Bernadette disse: “Oh, sim, Ela vai voltar. Mas agora já não é mais necessário que eu vá à gruta. Quando ela voltar, então será necessário que eu retorne à gruta. Ela far-me-á saber”.

* * *

A “quinzena” terminou assim.

Entretanto Nossa Senhora voltou a aparecer na gruta para Santa Bernadette em mais três ocasiões.

Foi nestas vezes que a série de manifestações extraordinárias de Noss5ª APAa Senhora atingiu seu ponto culminante.

Fonte: http://lourdes-150-aparicoes.blogspot.com/2008/12/15-apario-ltima-da-quinzena.html


Eu sou o pão do céu – Inspiração divina (Eucarístia)

março 24, 2010

O RELÓGIO DA PAIXÃO: 06:00 ÀS 07:00 hs. JESUS É DESPREZADO POR HERODES.

março 24, 2010

O RELÓGIO DA PAIXÃO
DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

   06:00 ÀS 07:00 hs. JESUS É DESPREZADO POR HERODES.

Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.) (Is 53, 7) 

JESUS É LEVADO PERANTE HERODES

E, quando soube que era da jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, pois justamente naqueles dias se achava em Jerusalém. Herodes alegrou-se muito em ver Jesus, pois de longo tempo desejava vê-lo, por ter ouvido falar dele muitas coisas, e esperava presenciar algum milagre operado por ele. Dirigiu-lhe muitas perguntas, mas Jesus nada respondeu. Ali estavam os príncipes dos sacerdotes e os escribas, acusando-o com violência. Herodes, com a sua guarda, tratou-o com desprezo, escarneceu dele, mandou revesti-lo de uma túnica branca… (Lc 23, 7-11)

Pai Nosso…, Ave Maria…, Glória ao Pai…

Pela sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.

Meu Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.

            Segundo as Visões de Anna Catharina Emmerich: 

Jesus perante Herodes

            O palácio do Tetrarca Herodes estava situado ao norte do fórum, na cidade nova, não muito longe do palácio de Pilatos. Um destacamento de soldados romanos acompanhou o cortejo, a maior parte oriunda da região entre a Itália e a Suíça. Os inimigos de Jesus, furiosos por ter de fazer tantas caminhadas, não cessavam de ultrajá-lo e de fazê-lo empurrar e arrastar pelos soldados. O mensageiro de Pilatos chegou antes do cortejo ao palácio de Herodes, que assim, já avisado, O esperava sentado numa espécie de trono, sobre almofadas, numa vasta sala; rodeavam-no muitos cortesãos e soldados.

Os Sumos Sacerdotes entraram pelo peristilo e colocaram-se de ambos os lados; Jesus ficou na entrada. Herodes sentiu-se muito lisonjeado, por Pilatos tê-Lo publicamente declarado competente, diante dos Sumos Sacerdotes, de julgar um galileu. Mostrou-se muito importante e vaidoso; também se regozijava de ver diante de si, em situação tão humilhante, o famoso Mestre, que sempre tinha desdenhado apresentar-Se-lhe.

João falara dEle com tanta solenidade e ouvira os Herodianos e outros espiões e mexeriqueiros falarem de Jesus, que tinha muita curiosidade de vê-Lo; comprazia-se em sujeitá-Lo, diante dos palacianos e dos Sumos Sacerdotes, a um prolixo interrogatório, pelo qual queria mostrar a ambas as partes quanto estava bem informado. Pilatos tinha-lhe também comunicado que não achara crime em Jesus; e o hipócrita tomou-o como aviso, para tratar os acusadores com certa frieza, o que ainda mais lhes aumentou a raiva.

         Proferiam acusações tumultuosamente, logo ao entrarem; Herodes, porém, olhou com curiosidade para Jesus e quando O viu tão desfigurado e maltratado, o cabelo desgrenhado, o rosto dilacerado e coberto de sangue e imundícies, a túnica toda suja de lama, esse rei mole e libertino sentiu dó e nojo. Exclamou um nome de Deus que me soou como “Jeovah”, virou o rosto, com um gesto de nojo e disse aos sacerdotes: “Levai-O daqui, limpai-O. Como podeis trazer à minha presença um homem tão sujo e maltratado?” Os soldados levaram então Jesus ao átrio; trouxeram água numa bacia e um esfregão e limparam-nO cruelmente; pois o rosto estava ferido e passavam o esfregão com brutalidade.

         Herodes repreendeu os sacerdotes, por causa dessa crueldade e no modo de tratá-los parecia imitar Pilatos; pois também lhe disse: “Vê-se bem que Ele caiu nas mãos de carniceiros; começastes a imolação hoje antes da hora”. Os sumos sacerdotes, porém, insistiam tumultuosamente nas acusações e incriminações. Quando reconduziram Jesus à sala, quis Herodes fingir benevolência para com Ele e mandou trazer-Lhe um cálice de vinho, por estar muito fraco; Jesus, porém, sacudiu a cabeça e não aceitou o vinho.

         Herodes dirigiu-se então com muita verbosidade e afabilidade, proferindo tudo que sabia dEle. A princípio Lhe fez várias perguntas e manifestou o desejo de vê-Lo fazer um milagre; como porém, Jesus não respondesse palavra alguma e permanecesse com os olhos baixos, ficou Herodes irritado e envergonhado diante dos presentes, mas não quis mostrá-lo e continuou a fazer-Lhe uma torrente de perguntas.

Primeiro procurou lisonjeá-lo: “Sinto muito te ver tão gravemente acusado; tenho ouvido falar muito de ti; sabes que me ofendeste em Tirza, resgatando sem minha licença, vários presos que eu mandara prender lá? Mas fizeste-O talvez com boa intenção. Agora me foste entregue pelo governador romano para te julgar; o que respondes a todas aquelas acusações? Ficas calado?

– Têm-me falado muito de tua sabedoria, dos teus discursos e da tua doutrina; eu desejaria ouvir-Te refutar os teus acusadores. – Que dizeis? – É verdade que és o rei dos judeus? – És o Filho de Deus? – Quem, és? – Ouvi dizer que tens feito grandes milagres, prova-o diante de mim, fazendo um milagre. Depende de mim libertar–Te. – É verdade que deste a vista a cegos de nascença? Ressuscitaste dos mortos Lázaro? Saciaste vários milhares de homens com poucos pães? Porque não respondes? – Conjuro-te a operar um dos teus milagres. – Seria muito em teu favor”.

Como, porém, Jesus continuasse calado, Herodes falou com volubilidade ainda maior: “Quem és? – Como chegaste a isto? – Quem Te deu o poder? – Porque não tens mais poder agora? És acaso aquele de cujo nascimento se contam coisas tão estranhas? No tempo de meu pai vieram alguns reis do oriente e perguntaram-lhe por um recém-nascido rei dos judeus, a quem queriam prestar homenagem; dizem que eras Tu aquele menino; é verdade? – Escapaste da matança em que pereceram tantas crianças? – Como foi isto? – Porque não se ouviu falar de Ti tanto tempo? – Ou apenas dizem isto a teu respeito  para fazer-Te rei? – Justifica-Te. – Que espécie de rei és Tu? Em verdade, não vejo em Ti nada de real. – Como me dizem, fizeram-Te uma entrada triunfal no Templo. Que significa isto? Fala! Como é que tudo acabou assim?”

         A toda essa torrente de palavras não obteve resposta alguma de Jesus. Foi-me explicando agora e, já há mais tempo, que Jesus não lhe respondeu, porque Herodes foi excomungado, tanto pelas relações adúlteras com Herodíades, como também pelo assassínio de João Batista. Anás e Caifás aproveitaram a indignação que lhe causou o silêncio de Jesus, para de novo proferir as acusações. Entre outras coisas afirmaram que Jesus tinha chamado Herodes de raposa e que, já desde muito tempo, tinha trabalhado para a queda de toda a família de Herodes; que queria fundar uma nova religião e comera o cordeiro pascal no dia anterior. Essa acusação já a tinham produzido perante Caifás, por traição de Judas, mas fora refutado por alguns amigos de Jesus, os quais para esse fim leram alguns trechos de rolos da Escritura.

         Herodes, ainda que irritado pelo silêncio de Jesus, não se esqueceu dos seus interesses políticos. Não quis condenar Jesus; pois Este lhe inspirava um terror secreto e já era torturado de remorsos, por causa da morte de João Batista; também odiava os sumos sacerdotes, porque não tinham querido desculpar-lhe o adultério e o haviam excluído dos sacrifícios pelo mesmo motivo. Mas o motivo principal era que não queria condenar aquele a quem Pilatos declarara inocente; convinha-lhe aos interesses políticos aplaudir a opinião de Pilatos, diante dos príncipes dos sacerdotes. A Jesus, porém, cobriu de desprezo e insultos; disse aos criados e guardas, dos quais contava uns duzentos no palácio. “Levai para fora este tolo e prestai a este rei ridículo as honras que se Lhe devem; pois é mais um doido do que um criminoso”.

         Conduziram então o Salvador a um vasto pátio, onde o cobriram de escárnio e indizíveis crueldades. Esse pátio estendia-se por entre as alas do palácio e Herodes, de pé num terraço, assistiu por algum tempo a esse espetáculo cruel. Anás e Caifás, porém, andavam sempre atrás dele e procuravam por todos os meios movê-lo a condenar Jesus; mas Herodes disse-lhes, de modo que os romanos da escolta o ouvissem: “Seria um crime de minha parte, se O condenasse”. Queria certamente dizer: “Seria um crime contra a sentença de Pilatos, que teve a gentileza de mandá-Lo a mim”.

         Vendo que não conseguiam nada de Herodes, os sumos sacerdotes e os inimigos de Jesus enviaram alguns dos seus, com dinheiro, a Acra, bairro da cidade onde se achavam nessa ocasião muitos fariseus, aos quais mandaram dizer que fossem, com os respectivos partidários, às vizinhanças do palácio de Pilatos; fizeram também distribuir entre o povo muito dinheiro, para levá-lo a pedir tumultuosamente a morte de Jesus. Outros emissários deviam ameaçar o povo com castigos de Deus, se não conseguisse a morte desse blasfemador sacrílego; também mandaram espalhar entre o povo que se Jesus não morresse, se ligaria aos romanos e seria esse o reino de que sempre falara; e então seriam aniquilados os judeus.

Em outra parte espalharam o boato de que Herodes condenara Jesus, mas esperava que o povo manifestasse sua vontade; receava-se a resistência dos adeptos do Nazareno e se esse fosse solto, seria perturbada toda a festa; pois então Ele, com seus partidários e os romanos, tirariam vingança. Desse modo fizeram espalhar os boatos mais contraditórios e assustadores, para irritar e sublevar o povo, enquanto outros emissários deram dinheiro aos soldados de Herodes, afim de que maltratassem gravemente a Jesus, mesmo até O fazer morrer, pois antes desejavam que morresse do que Pilatos O soltasse.

         Enquanto os fariseus estavam ocupados nesses negócios e intrigas, sofreu Nosso Senhor o escárnio e a brutalidade mais ignominiosa da soldadesca ímpia e grosseira, à qual Herodes O tinha entregue, para ser maltratado, como tolo que não lhe quisera responder. Empurraram-nO para o pátio e um deles trouxe um comprido saco branco, que achara no quarto do porteiro e em que, havia tempos, viera uma remessa de algodão. Cortaram com as espadas um buraco no fundo do saco e meteram-nO por entre grandes gargalhadas, sobre a cabeça de Jesus; outro trouxe um farrapo vermelho e pôs-Lhe em redor do pescoço, como um colar; o saco caia-Lhe sobre os pés.

         Então se inclinavam diante dEle, empurravam-nO e entre ditos insultantes, cuspiam e batiam-Lhe no rosto, porque não tinha respondido ao rei e prestavam-Lhe outras mil homenagens escarnecedoras; atirava-Lhe lama, davam-Lhe arrancos, como para fazê-lo dançar; depois o fizeram cair com o longo manto derrisório e arrastaram-nO por um esgoto que passava no pátio, ao longo dos edifícios, de modo que a cabeça sagrada do Salvador batia de encontro ás colunas e pedras angulares; depois O levaram e começaram as crueldades de novo. – havia lá cerca de duzentos soldados e servidores do palácio de Herodes, gente de todas as regiões e cada um dos mais perversos queria fazer honra a seu país e distinguir-se diante de Herodes, inventando um novo ultraje para Jesus.

Faziam tudo precipitadamente, empurrando-se uns aos outros, entre escárnios; os inimigos de Jesus tinham pago dinheiro a alguns deles, que no tumulto Lhe deram diversas pauladas na santa cabeça. Jesus fitava-os com os olhos suplicantes, suspirando e gemendo de dor; mas zombavam dele, imitando-Lhe os gemidos; a cada nova brutalidade rompiam em gargalhadas e insultos, não haviam nenhum que Lhe mostrasse piedade. Tinha a cabeça toda banhada em sangue e vi-O cair três vezes, sob as pauladas, mas vi também uma aparição como de Anjos, que, chorando, desceram sobre Ele e lhe ungiram a cabeça. Foi-me revelado que sem esse auxílio de Deus, as pauladas teriam sido mortais. Os filisteus, que fizeram o cego Sansão correr na Pista de Gaza, até cair morto de cansaço, não foram tão violentos e cruéis como esses perversos.

         Urgia o tempo para os Sumos Sacerdotes, porque em pouco deviam ir ao Templo e quando receberam aviso de que todas as suas ordens tinham sido cumpridas, insistiram mais uma vez com Herodes, pedindo-lhe que condenasse Jesus. Mas o tetrarca tinha em vista apenas suas relações com Pilatos e mandou reconduzir-lhe Jesus, vestido do manto derrisório.

 Fonte: http://www.derradeirasgracas.com/3.%20Vários%20Assuntos/O%20relógio%20da%20Paixão/JESUS%20É%20DESPREZADO%20POR%20HERODES.06%2000.htm


O que fazer quando temos aridez espiritual?

março 24, 2010

O que fazer quando temos aridez espiritual?

A única saída é fechar os olhos e dar as mãos a Jesus para ser guiado por Ele
Muitas vezes, podemos passar por algum período de aridez espiritual, isto é, não temos vontade de rezar, torna-se difícil assistir a Santa Missa, a reza do Terço fica pesada, etc. Até mesmo a sagrada Comunhão se torna um sacrifício diante das dúvidas que podem atingir a nossa alma. Parece que o céu sumiu.

Como vencer esse estado de espírito no qual parece que Deus está longe e que nos falta a fé?

Primeiro é preciso verificar se esta situação não é tibieza, isto é, causada por nossa culpa em não perseverar no cuidado da vida espiritual, e, sobretudo, verificar se não há pecados graves em nossa alma, que possam estar afugentando dela a graça de Deus.

Se não houver pecados na alma, então, é preciso antes de tudo, calma, paciência e perseverança nos exercícios espirituais: oração, vida sacramental, caridade, penitência, etc. Mesmo sem vontade ou sem gosto, continuar, sem jamais parar, os exercícios espirituais.

Deus, às vezes, permite essas provações para que aprendamos a “buscar mais o Deus das consolações do que as consolações de Deus”, como disse um santo. São João da Cruz, místico que tanto experimentou o que chamou de “noite escura da fé”, afirmou que “o progresso da pessoa é maior quando ela caminha às escuras e sem saber.”

Muitas vezes, nos deleitamos nas orações gostosas, cheias de fervor sensível, como crianças quando comem doces. Mas quando vem a luta, deixamos a oração.

Vejamos o que diz o Apóstolo:

“Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não desanimes, quando repreendido por ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho (Pr 3,11s). Estais sendo provados para a vossa correção: é Deus que vos trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige?… Mas se permanecêsseis sem a correção que é comum a todos, seríeis bastardos e não filhos legítimos… Aliás, temos na terra nossos pais que nos corrigem e, no entanto, os olhamos com respeito. Com quanto mais razão nos havemos de submeter ao Pai de nossas almas, o qual nos dará a vida? Os primeiros nos educaram para pouco tempo, segundo a sua própria conveniência, ao passo que este o faz para nosso bem, para nos comunicar sua santidade” (Hb 12,5-10).

Deus nos quer santos, e é também algumas vezes pela provação e pela aridez espiritual que Ele arranca as ervas daninhas do jardim de nossas almas. Coragem, alma querida de Deus! Jesus disse que Ele é a videira verdadeira, e Seu Pai o bom agricultor, que podará todo ramo bom que der fruto, para que produza mais fruto (cf. Jo 15,1-2).

Não podemos querer apenas o açúcar do pão e renegar o pão do sacrifício. Às vezes a meditação é difícil, a oração é penosa, distraída, surgem as noites e as trevas… Nessas horas é preciso silêncio, abandono, paciência. O Esposo há de voltar logo… Em breve vai raiar a aurora e os fantasmas vão sumir.

Quanto mais a noite fica escura, mais perto nos aproximamos da aurora. Deus sabe o que estamos passando, louvado seja o Seu santo Nome! É hora de abandono em Suas mãos paternas.

Em meio às trevas alguns sentem o coração como se fosse de gelo, não sentem mais amor a Jesus, perdem a piedade, se sentem condenados. Que desoladora confusão espiritual!

Nestas horas a única saída é fechar os olhos e dar as mãos a Jesus para ser guiado por Ele na fé; confiança e abandono, irmão! Só o Senhor sabe o caminho para sairmos deste matagal fechado e escuro.

Deus nos prepara para a contemplação pelas provas passivas, ensinam os santos. Ele as produz e a alma apenas tem que aceitar. É o duro caminho dos que querem a perfeição. Ele está purificando a alma; o Cirurgião Celeste está nos operando a alma.

São João da Cruz fala da famosa “noite dos sentidos” cheia de aridez e de provação, um verdadeiro martírio para a alma. Segundo o santo doutor, é Jesus que chama a alma a caminhar com Ele no deserto, mesmo queimando os pés e sendo queimado pelo sol, para se santificar.

Calma, alma querida de Deus, Ele faz isso porque o ama muito! O fogo bom não é aquele “fogo de palha”, alto e bonito, mas rápido, que logo se apaga; mas é o fogo baixo que pega na lenha grossa e permanece por muito tempo. O fogo de palha é só para começar…

É isso que está acontecendo; não se assuste; não se preocupe porque o gosto de rezar sumiu e se tornou um agora um sacrifício penoso… Fé não é sentimento e muito menos sentimentalismo; fé é adesão, com a mente, a Deus, às Suas verdades e às Suas determinações. Não se preocupe de estar ou não “sentindo” fé ou devoção; apenas viva-a; vá à Missa, ao grupo de oração, ao Terço, com ou sem vontade, com ou sem gosto, com ou sem sentimento. Assim, temos mais méritos ainda diante de Deus.

Nesta situação talvez você precise de um diretor espiritual, especialmente na Confissão, para uma boa orientação.

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Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com
Prof. Felipe Aquino, casado, 5 filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de Aprofundamentos no país e no exterior, já escreveu 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: “Escola da Fé” e “Trocando Idéias”.

Saiba mais em Blog do Professor Felipe
Site do autor: www.cleofas.com.br

Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=11769